Piraquara

Agentes penitenciários fazem protesto na RMC

Amedrontados e comovidos diante da morte de dois colegas nos últimos cinco dias, agentes penitenciários fizeram uma paralisação durante toda a terça-feira e apresentaram sua insegurança, dentro e fora do ambiente de trabalho, à secretaria Maria Tereza Uille Gomes.

“Os agentes estão temerosos tanto nas penitenciárias quanto em casa. O clima está pesado. Precisamos que o governo atente para estas questões alarmantes. Pessoas estão morrendo. Nesta reunião, a secretaria começou a reconhecer a gravidade do problema que os agentes vêm enfrentando nas penitenciárias do Paraná”, disse o Antony Johnson, vice-presidente do Sindarspen. Mesmo com medo de voltar ao trabalho, o expediente está sendo feito de modo normal pelos agentes já nesta quarta-feira, garantiu Johnson.

A Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju) informou, por meio da assessoria, que o serviço de inteligência da polícia, que monitora as ações dos presos, vem investigando todas as denúncias.

Protesto

Cerca de cem agentes participaram da manifestação, no início da manhã desta terça-feira (19), em frente ao portão principal complexo penitenciário pedindo mais segurança para a categoria. Dos dois agentes assassinados nos últimos cinco dias, um estava trabalhando na Colônia Penal Agroindustrial (CPAI) e o outro na Penitenciária Estadual de Piraquara II (PEPII). Ambos foram executados dentro de casa com tiros pistola calibre 40 e nove milímetros.

Vários episódios ocorridos nos últimos meses mostram a tensão vivida dentro dos presídios. Desde o início do ano, foram três agentes mortos e duas vítimas de tentativa de homicídio. Quatro presos morreram em presídios. Dois foram assassinados na Penitenciária Estadual de Piraquara I (PEP I). No domingo, 35 presos fugiram da Colônia Penal Agroindustrial (CPAI), sendo que 23 escaparam de uma só vez e o restante deixou a unidade para trabalhar e não retornou mais.

Atividades paralisadas

De acordo com o Sindicato dos Agentes Penitenciários (Sindarspen), por causa do protesto, apenas as atividades básicas estão sendo realizadas dentro dos presídios, como alimentação e procedimentos de urgência. Por causa da mobilização, o mutirão carcerário que iria analisar de terça-feira (19) mais de 1,4 mil processos de presos no Estado foi adiado para quarta-feira.

Desta terça-feira (19), o delegado Osmar Feijó, titular da delegacia de Piraquara, negou boatos de que houve uma tentativa de fuga na delegacia e na PEP I segunda-feira. “Entrei em contato com vice-diretores de presídios que não confirmaram nenhuma tentativa de fuga nem de rebelião. O que houve desta terça-feira (19) foi uma manifestação pacífica dos agentes que pediam mais segurança”, afirmou.

PF vai ceder porte de arma

Os pedidos de porte de arma pessoal feitos por agentes à Polícia Federal poderão ser atendidos a partir desta semana. Este foi o compromisso firmado em uma reunião, de terça-feira (19), na Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju), com representantes do Sindicato dos Agentes Penitenciários (Sindarspen) e da PF.

“Desde que os documentos apresentados estejam dentro da legalidade, o porte pessoal de arma poderá ser agilizado. Vamos dar prioridade aos agentes penitenciários”, informou o delegado José Alberto de Freitas Iegas. Outra medida paliativa definida na reunião foi a escolta, feita pela Polícia Militar, do ônibus que leva os agentes penitenciários até as unidades prisionais de Piraquara.

Agentes saem em cortejo

O velório do agente Antônio Prestes da Silva termina às 10h da manhã de hoje. A partir deste horário, um cortejo composto por familiares, amigos e vários agentes penitenci&a,acute;rios deve seguir da Capela Vaticano, no São Francisco, até o Cemitério Municipal do Santa Cândida, onde o agente será sepultado. O carreata será feita em forma de protesto, informou o Sindicato dos Agentes Penitenciários.

A Seju e o Departamento de Execução Penal emitiram nota de pesar sobre a morte do agente e os lamentáveis atos de violência que atingem servidores da pasta. “As providências estão sendo tomadas para esclarecer os fatos e preservar o clima de paz, sem violência em todo o Sistema”, diz a nota.

Parentes de presos assustados

Familiares de presos recolhidos em Piraquara, estão amedrontados com os protestos dos agentes penitenciários e temerosos que alguma represália seja feita aos detentos. A suspensão das visitas é um dos atos dos agentes, que estão cobrando mais segurança para a classe, e que deixou esposas e mães de presos mais preocupadas ainda. “Eles devem ter impedido a visita porque devem ter batido em todo mundo e não querem que a gente veja. Já vimos uma ambulância entrar e sair, pelo menos sete vezes daí: O que será isso? Alguém morreu, tem gente machucada? Ninguém fala nada”, reclama uma das esposas, que chegou às 5h em frente à penitenciária e não conseguiu ver o marido.

O veículo chamado de ambulância pelas famílias foi identificado pelos agentes penitenciários como veículo de escolta e que é comum ele entrar e sair do complexo penitenciário várias vezes ao dia.

Os agentes negaram também que alguém tivesse ficado ferido ou sofrido represálias pelo assassinato de Wilmar anteontem.

Além da preocupação, a mágoa das famílias também era grande pela perda da comemoração de Páscoa que teriam com os maridos e filhos. Estava agendado para de terça-feira (19) o almoço especial em família, em que são liberados alguns alimentos diferentes. “Todo mundo trouxe uma carne, comida especial, porque hoje [ontem] estava liberado, gastamos mais do que podemos porque é almoço de Páscoa e agora vamos perder tudo isso. Muita coisa aqui já estragou. Isso não se faz, deveriam ter nos avisado”, lamentou uma das esposas.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna