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A Polícia Civil convocou peritos, ontem, para fazer análise de uma agenda que provaria a coordenação da Associação Paranaense de Empresários de Obras Públicas (Apeop) nas licitações da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) por meio de estratégias de combinação de preços entre empresas participantes das concorrências. O material foi colhido durante as apreensões da operação Grande Empreitada, que deflagrou um esquema de fraude de licitações de obras públicas e vem executando prisões, apreensões e colhendo depoimentos de supostos envolvidos e testemunhas há uma semana em Curitiba, Região Metropolitana e no interior do Estado, além de Rio de Janeiro e São Paulo.

Segundo a polícia, a agenda é prova importante porque evidencia combinação antecipada de valores para execução de obras viárias na RMC, o que teria levado ao cancelamento de um primeiro edital expedido pela Comec. Intermediando os acordos, a Associação Paranaense de Empresários de Obras Públicas (Apeop) teria armado um esquema com as empresas para superfaturar o valor estabelecido em 25%, levando parte do dinheiro.

O delegado Sérgio Sirino, à frente das investigações, não revelou de quem seria a agenda, mas disse que a polícia está intimando a pessoa que fez as anotações a depor. "Na concorrência pública os concorrentes não sabem os valores contidos no envelope. Essas pessoas teriam combinado previamente, em um acerto, qual seria o valor a ser colocado", explicou o delegado, revelando que a agenda foi encontrada entre o material apreendido em função de uma interceptação telefônica na qual os interlocutores argumentavam sobre estratégias de entrega dos envelopes na Comec. "Isso era para que não ficasse muito ?na cara’ que a Apeop estaria coordenando diretamente a licitação", falou. O delegado disse que o envolvimento da associação ditando regras sobre licitações foi também relatado por testemunhas e engenheiros, inclusive da Comec, que presenciaram a associação dirigindo as mesmas. "As licitações que deveriam ser dirigidas pela Comec, na verdade, eram dirigidas pela Apeop", resumiu Sirino.

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Questionado sobre envolvimento de políticos no esquema de fraude de licitações, o delegado Sirino confirmou que nomes já foram citados, mas que não mudará o foco das investigações para este lado. Ele afirmou apenas que "existe possibilidade de que pessoas de níveis superiores em hierarquias políticas sejam alvo das investigações".

Depoimentos

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Na noite de ontem, o presidente da Associação Paranaense de Empresários de Obras Públicas (Apeop) chegou ao Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce) escoltado por seu advogado, Roberto Brzinski. O advogado declarou que "em hipótese alguma" conversaria com a imprensa. Deveria ser ouvido ainda ontem o vice-presidente da Apeop, Fernando Afonso Gaissler Moreira, mas até o início da noite ele ainda não havia se apresentado no Nurce.

Dois empresários da Delta S.A. também se apresentaram ontem e prestaram depoimento. A polícia desconfia que a empresa teria implicações em um acordo envolvendo edital da Comec, além de participação em "fila de espera" para obtenção de obras em um acordo entre Apeop, BR Distribuidora e Construtora Triunfo. O funcionário da Comec Lucas Bach Adada, único que permanece detido, não havia conseguido liberação por habeas-corpus até a tarde de ontem e continuava recolhido no Centro de Triagem da Polícia Civil. A reportagem procurou por Cláudio Dalledone, advogado de Adada, mas a secretária dele informou que Dalledone está em viagem e deve retornar somente na próxima semana.