Afastados policiais que participaram de fuzilaria em Balsa Nova

Seis policiais envolvidos na desastrada abordagem que resultou na morte de João Mochinski, 50 anos, foram afastados do trabalho da rua pela Secretaria da Segurança Pública.

Na fuzilaria, Eziane Batista Veiga Zebleski e sua filha Bianca, de 8 anos, foram feridas e permanecem no hospital. Até agora, ninguém da Polícia Civil ou da Sesp entrou em contato com a família de João, apesar de o policiamento comunitário, que deveria aproximar o policial do cidadão comum, ser uma das bandeiras da secretaria.

Os policiais afastados trabalham na Divisão Estadual de Narcóticos (Denarc). Até que as investigações sejam concluídas, os policiais irão fazer trabalhos administrativos. Paralela às investigações feitas pelo delegado Robson Barreto, do Nurce (Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos), designado para o caso, a Corregedoria da Polícia Civil também instaurou investigação para avaliar a conduta dos policiais. O trabalho será acompanhado pelo Grupo de Atuação Especial (Gaeco) do Ministério Público Estadual.

Foto: Átila Alberti

João morreu ao volante.

Barreira

Seis policiais da Denarc, dois deles do serviço reservado da Polícia Militar, foram destacados para monitorar a chegada de suposta carga de maconha, vinda do Paraguai. De acordo com o delegado Rodrigo Brown de Oliveira, da Denarc, três policiais estavam com uma viatura, na estrada em Balsa Nova, quando viram o Passat placa ADM-3469.

Eles teriam tentado abordagem, emparelhando com o veículo de João e mostrando a identificação de policiais. Segundo os investigadores, João não parou e fugiu em alta velocidade. Como o homem não abaixou o vidro com película escura, os policiais não viram que ali estava uma mulher e uma criança, e passou a persegui-los.

Fuzilaria

Os investigadores avisaram outros três policiais, que estavam alguns quilômetros a frente. ?Estes colocaram a viatura, que estava descaracterizada, atravessada na estrada, ligaram o giroflex e desceram com coletes e roupas que os identificavam como policiais?, garantiu o delegado. João não parou e os policiais atiraram. ?Se eles não atirassem, seriam atropelados. Foi uma fatalidade. São policiais preparados, que só atiraram porque se sentiram realmente ameaçados. Estamos agindo com total transparência?, disse Rodrigo. João teve o carro crivado de balas de metralhadora e pistola ponto 40.

Mãe e filha estão bem

Eziane e a filha continuam internadas no Hospital São Lucas, em Campo Largo. Elas passam bem e hoje devem receber alta. De acordo com uma funcionária do hospital, as duas estão muito abaladas.

A menina, ferida de raspão no quadril, restringe seus comentários ao medo de morrer. A mãe dela, ferida no ombro, não quis falar com a imprensa. Segundo a funcionária, o marido proibiu Eziane de conceder entrevistas. João era professor de futebol do filho do casal.

João vencia o câncer

Marcelo Vellinho

Foto: Walter Alves

Velório foi marcado pela revolta de amigos e parentes.

O corpo de João Mochinski, 50 anos, funcionário da Prefeitura de Balsa Nova, foi velado na manhã de ontem, na capela da Igreja do Bugre. Na despedida, amigos e familiares clamaram por justiça. Robson, filho de João, lembrou que há oito anos foi diagnosticado que o pai estava com câncer e, recentemente, ele vinha se recuperando. ?Ele estava vencendo a doença e acabou morrendo pela incompetência de policiais despreparados?, desabafou.

Conforme relatou à reportagem, depois que atiraram, os policiais levaram João, na viatura, até o Hospital São Lucas, em Campo Largo. ?Eles o deixaram lá como indigente, sendo que ele estava com seus documentos?, relatou Robson. No hospital, João foi reconhecido por um funcionário e a família foi chamada. ?Até agora, ninguém da polícia entrou em contato com a gente?, continuou o filho da vítima.

Porém, o delegado Rodrigo, da Denarc, afirmou que, assim que soube o que havia acontecido, foi rapidamente até o hospital, onde mãe e filha foram internadas. ?Quando cheguei, os policiais já estavam lá, prestando apoio necessário. Não nos omitimos, em momento algum?, finalizou o delegado.

Pai de quatro filhos, João era casado com Marli Gonçalves Mochinski. Antes da doença, ele trabalhou em uma fábrica de doces, foi segurança e professor de caratê. Mesmo com câncer, não deixou de trabalhar e, ultimamente, cuidava de um campo de futebol da Prefeitura, no bairro São Caetano. ?Ele tinha muita fé. Nem a doença o impedia de trabalhar nos domingos e feriados?, comentou o motorista Mauro Martins da Silva, que conhecia João há mais de 25 anos.

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