Apesar de ser ex-comandante do Corpo de Bombeiros, o coronel reformado Almir Porcides Júnior, que há pouco mais de um ano assumiu a função de interventor do Instituto Médico-Legal (IML) de Curitiba, parece que não consegue conter os “incêndios” que abalam as estruturas do órgão, alvo de sucessivas denúncias de corrupção e de mau funcionamento.
No último domingo, a Agência Estadual de Notícias, por determinação da Secretaria da Segurança Pública, informou que dois funcionários tinham sido afastados das funções, suspeitos de receber propina para indicar funerárias a parentes de pessoas mortas.
Mas, a Sesp “esqueceu” de revelar que os acusados são policiais militares, colocados à disposição do IML, nas funções de antigos funcionários, para que não houvesse mais casos como este.
Consultada, a Sesp, através de sua assessoria de imprensa, não confirmou nem desmentiu que se trata de PMs, e avisou que não vai dar informações sobre o assunto, até que seja apurado pelo Núcleo de Repressão aos Crimes Econômicos (Nurce) o envolvimento dos dois afastados na negociata.
Este procedimento tem sido usual por parte da Segurança Pública, que deixa a desejar no quesito esclarecimentos. Inclusive números de mortos na Capital e Região Metropolitana, informados pela Sesp, são sempre menores dos que os apurados pela imprensa.
Antes da intervenção, bastava comparações com dados contidos nos livros do IML, para mostrar que a Sesp havia errado a soma. Cansada de ser contrariada, com a intervenção militar no Instituto, o acesso às informações foi proibido e agora só é divulgado o que é de interesse do órgão.
Mas, com ou sem censura, as queixas continuam se avolumando e aparentemente não há perspectiva de que a situação vai melhorar. Nem mesmo uma simples entrevista com o coronel Porcides pode ser realizada sem autorização expressa da Secretaria da Segurança.
Algo não cheira bem
Esconder a sujeira embaixo do tapete pode funcionar por algum tempo, mas não permanentemente. Em algum momento, a sujeira escapa pelos cantos. No caso do IML, quando mais se tenta camuflar os problemas, mais a população sofre.
O prédio, na Avenida Visconde de Guarapuava, ganhou pintura nova e viaturas especiais. No entanto, algo não cheira bem lá dentro. Familiares de vítimas não estão sendo atendidos a contento.
Há demora na liberação dos corpos e aparentemente muita desorganização. Uma família denunciou, na semana passada, que levou sete meses para conseguir liberar um morto e sepultá-lo. Algo jamais visto na história do instituto.
Na sexta-feira antes do Carnaval, um acidente na BR-376, que liga Curitiba a Joinville, transformou a rodovia em um inferno, pois o congestionamento foi de quilômetros, isso porque o IML levou mais de três horas para recolher o corpo. Naquele dia, só uma viatura estava em funcionamento para Curitiba e 31 municípios da região metropolitana.
Pilha
Há quem garanta que existam mais de 40 corpos empilhados nas geladeiras, sem identificação e sem numeração, o que significa que ninguém sabe nem de onde vieram ou quando foram recolhidos. É impossível confirmar esta informação, já que o IML está “blindado”.
Mas ex-funcionários e alguns poucos que têm acesso aos misteriosos corredores do instituto asseguram que a situação é precária, num desrespeito total para com as famílias das vítimas de morte violenta, que nesta hora, mais do que nunca, necessitam de conforto e agilidade.