Um dos sobreviventes dos cinco crimes imputados ao coronel Jorge Luiz Thais Martins, 56 anos, informou em depoimento à polícia que consumiu crack e álcool instantes antes do crime.
Ele reconheceu o coronel por fotos 16 dias depois de ver dois amigos serem assassinados, na Rua Cleto da Silva, Boqueirão. Especialistas passaram a questionar a identificação do suposto assassino, já que as drogas consumidas podem alterar a percepção.
“O álcool pode causar amnésia parcial ou total. O crack pode criar alucinações. O usuário da droga passa a ver e ouvir vozes ou vultos que não existem”, explica o psiquiatra forense Rui Sampaio.
Aposentado depois de atuar muitos anos no Instituto de Criminalística, usando hipnose para obter retratos falados de suspeitos, ele acredita que, como o crime foi às 4h15, a escuridão da madrugada também pode ter dificultado o reconhecimento.
“Tecnicamente, para reconhecer um indivíduo à noite tem que ser em um local muito bem iluminado, e bem de perto. O escuro mascara um pouco o rosto. Não é possível, por exemplo, ver perfeitamente a cor e o formato dos olhos e o tamanho dos lábios”.
Comprometimento
Assim como o sobrevivente, que passou três dias internado no hospital se recuperando de um tiro no peito e outro no braço, outras pessoas alegam sem sombra de dúvidas que o coronel Martins é autor de outros dois crimes cometidos durante a madrugada.
A segunda vítima que afirmou reconhecer o ex-comandante dos bombeiros por fotos testemunhou um dos crimes, aos 20 minutos de 8 de agosto, e a terceira vítima testemunhou o último crime, em 14 de janeiro deste ano, às 5h20.
Segundo a psiquiatra Vanessa Andrade, especialista em dependência química, para avaliar o comprometimento de memória das testemunhas é importante conhecer a quantidade e o período de consumo da droga.
“Cada indivíduo reage de uma maneira, mas estar intoxicado com a droga não o impede de reconhecer uma imagem, a menos que esteja em um quadro grave de alucinação”, ressalta.
Ela lembra que o efeito da droga é rápido. Se manifesta e termina entre 5 e 10 minutos, ao contrário da cocaína, por exemplo, que tem o início da ação em até 30 minutos. “Pode ter sintomas de paranóia, mas ele não perde totalmente a consciência”, diz. Sampaio rebate. “O efeito termina rápido, mas os usuários queimam dezenas de pedra em uma noite, para que o efeito se torne constante”, assegura.
Defesa
É com estas dúvidas nos procedimentos do inquérito da Delegacia de Homicídios que o advogado Elias Mattar Assad passará a trabalhar nos próximos dias. Desde ontem, ao lado de Silvio Micheletti, ele compõe a equipe de defesa do Coronel Martins.