Tragédia

Advogado contesta prisão de motorista de Ligeirinho

A prisão do motorista José Aparecido Alves, que conduzia o ônibus ligeirinho durante o acidente que matou duas pessoas e feriu outras 32 na quinta-feira, no centro, foi considerada absurdo pelo advogado do Sindicato dos Motoristas e Cobradores nas Empresas de Transporte de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) Valdenir Dias.

O motorista permaneceu preso na Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran), mas foi solto na madrugada de ontem mediante fiança de R$ 1 mil. “Ele está muito abalado devido á situação e, principalmente, por conta da prisão. Ele trabalhava há 12 anos na empresa, tem residência fixa e ainda vai preso? Ele tentou de todas as formas desviar. As testemunhas afirmam isso. Entendemos que foi um defeito mecânico”, opinou o advogado.

Faltou freio

De acordo com o delegado Armando Braga, após sair do hospital, por conta das escoriações na cabeça, José Aparecido foi encaminhado à delegacia, onde prestou depoimento e foi autuado por homicídio culposo (quando não há intenção de matar).

Ele contou que assumiu a direção na estação-tubo da Praça Tiradentes e colocou o veículo em marcha. “Em vez de ser suave, houve aceleração máxima. Ele disse que tentou frear, mas o freio não foi suficiente”, contou Braga.

O motorista relatou que conseguiu desviar de um ônibus que estava na frente; tentou abrir ao máximo para fazer a curva, bateu no táxi e desviou do ponto de ônibus lotado.

Depois, bateu no Peugeot atropelou e subiu na calçada, invadindo a loja. Nessa altura, o ônibus estava desgovernado a mais de 40 quilômetros por hora, o que foi suficiente para causar a tragédia.

Ruído

Segundo o delegado, sete testemunhas, entre elas motoristas do táxi e do Peugeot, foram ouvidas. “Uma passageira contou que ouviu um ruído metálico, como algo se quebrando, barulho que o motorista diz não ter escutado”, revelou Braga.

Entre as pessoas que prestaram depoimento, estavam duas funcionárias da loja e um pedestre. Logo após o acidente, José se dispôs a realizar o exame de dosagem alcoólica, que deu negativo.

O ônibus está no pátio do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran) e será desmontado para ser submetido a perícia minuciosa. Os peritos analisarão as partes mecânicas do sistema de direção, aceleração e freio.

Braga acredita que o laudo do Instituto de Criminalística deverá levar mais de 30 dias para ser concluído. A Urbs também será oficiada para enviar à polícia a última vistoria realizada no veículo.

Ex-deputado não ficou detido nem um dia


Leonardo Coleto

Átila Alberti
Braga: número de feridos.

O acidente de quinta-feira remeteu o ocorrido pouco mais de um ano atrás, quando o ex-deputado Luiz Fernando Ribas Carli Filho se envolveu em uma colisão que culminou na morte de dois jovens.

Desde então, em nenhum momento o ex-parlamentar ficou preso. O ex-parlamentar foi indiciado por duplo homicídio com dolo eventual (quando se assume o risco de matar) e por dirigir embriagado.

Segundo o delegado Braga, um caso não tem nada a ver com o outro. “O caso Carli Filho não envolveu número grande de feridos. O ex-deputado só foi identificado cerca de 12 horas após a batida e teve a suspeita de embriaguez e racha. O acidente definitivamente não tem ligação com o da praça. O de ontem (quinta-feira) foi culposo”, disse o delegado. Braga argumentou que a prisão foi um procedimento normal. “Se for provado que foi falha mecânica,, ele pode ser absolvido pela Justiça”, disse.

Flagrante

De acordo com o especialista em trânsito, Marcelo Araújo, a principal diferença entre os dois casos foi o flagrante. “Aparentemente a situação do Carli Filho não contemplava dar flagrante na hora, uma vez que ele também se feriu. José Aparecido estava em condições de ser encaminhado para a delegacia. Aparentemente houve um homicídio e várias lesões. Uma coisa é ser vítima do próprio acidente. Naquela situação Carli Filho foi para o hospital. Até que se prove o contrário não se sabia quem tinha causado o acidente.”

Sindicato critica pressão

Leonardo Coleto

Para o Sindimoc, acidentes como o do ligeirinho ressaltam a pressão sofrida pelos motoristas em cumprir horários estabelecidos pela Urbs. De acordo com o BPTran, entre 2009 e 2010, 1.120 acidentes envolveram ônibus do transporte coletivo em Curitiba.

“Os motoristas sofrem muito com a pressão dos horários. A atual tabela é a mesma desde 1994, mas o trânsito mudou muito desde então. Qualquer pequeno atraso gera multa ao condutor”, reclamou o Valdeci Bolete, diretor administrativo do Sindimoc.

Monitoramento

Segundo a Urbs, a tabela de horários é monitorada e readaptada constantemente. A multas, por outro lado, são recebidas pelas empresas, que decidem repassar ao motorista ou não.

O Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp) afirma que as multas são repassadas aos motoristas dependendo de cada caso.

Luto na cultura paranaense

Márcio Barros

As vítimas fatais do acidente com o ligeirinho Edison Pereira da Silva, 50 anos, e Carlos Alberto Fernandes Brantes, 63, foram veladas no Cemitério da Água Verde e no Saguão do Teatro Guaíra. Mesmo sem se conhecer, as duas vítimas estavam envolvidas com a cultura paranaense.

Edison, segundo o irmão Claudio, trabalhou por mais de 25 anos como cinegrafista e sonoplasta do Teatro Guaíra. “Ele tinha 50 anos e passou 25 dentro do teatro. Edison adorava o que fazia e sempre estava de bom humor”, contou o irmão. Segundo ele, o que aconteceu foi uma fatalidade. “Qualquer pessoa poderia estar ali na hora do acidente. Infelizmente era a hora dele.”

História

Carlos era diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná há um ano. Segundo Ernani Straube, presidente da entidade, Carlos era uma pessoa dedicada e sempre lutou pela História e pelo conhecimento da comunidade.

“Ele já frequentava o instituto há mais de 10 anos e, no último ano, passou fazer parte da diretoria. Não é só a família que perde um ente querido, nós perdemos um amigo e toda a comunidade perde um homem de sucesso”, completou Ernani.

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