Adolescentes seqüestrados e fuzilados

A estrada de Campo Largo da Roseira, próxima à fábrica da Audi, em São José dos Pinhais, foi o local escolhido para a barbárie ocorrida na madrugada de ontem. Depois de serem seqüestrados em Curitiba, três adolescentes foram algemados e levados até o município vizinho, onde receberam tiros de pistolas ponto 40 e nove milímetros, na nuca. Dois morreram no local. Eliemerson Oliveira Almeida, 17 anos, conseguiu pedir socorro e foi hospitalizado. Considerado "um milagre" pelos médicos, ele sobreviveu e, consciente, na manhã de ontem foi ouvido por investigadores da delegacia local, na presença de sua mãe. Em seu depoimento, afirmou: os assassinos se passavam por policiais.

De acordo com o delegado de São José dos Pinhais, Osmar Dechiche, Eliemerson, o amigo dele, identificado apenas por "Bandi", da mesma idade, e outro chamado Eduardo, 16, foram abordados por volta das 22h, quando trafegavam com um veículo Monza pelas ruas do Pinheirinho. De acordo com o relato do sobrevivente, quatro homens ordenaram que eles parassem o carro e assim que o trio desembarcou, os obrigou a entrar no veículo que ocupavam. Algemados, eles foram levados até a casa de um homem para serem reconhecidos como os assaltantes que levaram o carro dele. Porém, os menores, que tinham várias passagens na polícia justamente por roubo de carros, não foram reconhecidos pela pretensa vítima. Mesmo assim, os supostos policiais resolveram executá-los.

De acordo com o sobrevivente, um dos seqüestradores disse que não iria compactuar com o crime e foi embora. Os outros três seguiram com os adolescentes para São José dos Pinhais. O Monza, que tinha sido ocupado pelas vítimas, foi encontrado abandonado ainda na madrugada, próximo ao 13.º Batalhão da Polícia Militar, no Tatuquara.

Execução

Já era madrugada quando os assassinos ordenaram que Eliemerson e um dos jovens descessem do carro e ficassem de joelhos na estrada de terra. Ele recebeu um tiro nas costas, que transfixou e atingiu seu braço, e caiu. Já no chão, foi baleado também na nuca. Em seguida os assassinos deram outros dois tiros na nuca do amigo dele. Antes de ir embora, os homem dispararam pela segunda vez no pescoço de Eliemerson, que na tentativa de amenizar sua dor, o protegeu com as mãos. Acreditando que os dois estavam mortos, os supostos policiais os arremessaram na valeta, ao lado da estrada, e foram embora, levando o outro adolescente algemado.

Mesmo ferido por três tiros de pistola ponto 40, Eliemerson levantou-se e tentou arrastar seu amigo, mas este já estava morto. O jovem conseguiu andar e gritar por socorro até um posto da Copel, onde pediu ajuda ao vigia, que chamou o Siate. Levado consciente ao Hospital Cajuru, o sobrevivente contou que os amigos dele ainda estavam lá.

Policiais militares fizeram buscas na região durante a madrugada, mas por tratar-se de um local pouco iluminado, nada encontraram. Na manhã de ontem o relato do sobrevivente confirmou-se. Moradores avistaram o corpo do outro adolescente, jogado na valeta. Sabendo que havia possibilidade de haver uma terceira vítima, os policiais fizeram outras buscas e localizaram o terceiro morto a cerca de 8 quilômetros de onde aconteceu a primeira execução. Com um pacote de pão na cabeça, ele foi assassinado com um tiro na cabeça e outro no peito.

Escolta

O sobrevivente afirmou que os assassinos seriam policiais e que em outra situação já os perseguiram, porém, policiais da delegacia de São José ainda estão investigando a denúncia feita pelo menor. "Descobrimos que os menores estavam sendo ameaçados de morte por um grupo rival. Estamos trabalhando para identificar os integrantes deste bando. Nas próximas horas deveremos ter novidades", disse Dechiche.

Para garantir a integridade física de Eliemerson, ele foi proibido de receber visitas, e policiais estão fazendo escolta no Hospital Cajuru, onde ele continua internado.

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