A festa de 15 anos é um momento muito esperado na vida de uma adolescente. Momento esse que uma garota de 14 anos, de Almirante Tamandaré, na região metropolitana de Curitiba, não vai ter. Ela foi apreendida junto com um adolescente de 15 anos, suspeitos de esfaquearem e deixarem entre a vida e a morte um taxista de 49 anos.
A ação aconteceu por volta de 12h desta terça-feira (23). Os dois pediram uma corrida, entraram no taxi normalmente e, em determinado ponto, na Rua Delegado Theolindo Baptista de Siqueira, no Jardim Paraíso, deram voz de assalto ao taxista.
“Sem permitir que o homem tivesse qualquer reação, os dois o esfaquearam no pescoço. A menina tentou enfiar a faca nele, mas a faca quebrou. Foi aí que o garoto, com uma faca maior, deu os golpes que, por pouco, não foram fatais”, contou o delegado Nasser Salmen.
Os dois fugiram sem levar nada do taxi. Eles esqueceram também a faca utilizada no crime. O taxista, Jair de Matos, de 49 anos, foi socorrido pelo Siate encaminhado, em estado grave, ao Hospital Evangélico, em Curitiba. Ele continua internado e corre risco de morte.
Apreensão
Os dois adolescentes, bastante espertos, mas ainda imaturos, foram apreendidos na manhã desta quarta-feira (24), em um trabalho conjunto da Polícia Civil da cidade com os policiais militares do 22º Batalhão. Eles foram encontrados porque foram vistos por dois colegas de trabalho taxistas, enquanto entravam no carro de Jair.
“Logo que tivemos conhecimento do crime, já começamos a investigação. Descobrimos algumas informações através dos dois taxistas, que viram os dois entrarem no taxi, e começamos as diligencias. A partir de informações e ligações telefônicas, descobrimos o paradeiro dos dois adolescentes”, contou o delegado.
Celular da menina foi apreendido pela polícia. Foto: Aliocha Mauricio. |
O menino foi apreendido em casa. Em seguida, os policiais foram até a escola onde a menina estudava e a apreenderam. “O que mais nos chamou atenção foi o fato de que os dois confessam. Essa confissão, tanto dele quanto dela, foi gravada em vídeo. Ela inclusive confirmou que também tentou dar uma facada, mas como a faca era frágil e o motorista estava de jaqueta, a faca quebrou e não o penetrou”.
Segundo apurado pelo delegado, a garota era a mentora. “Ela quem praticamente organizava como seria a ação. Uma menina fria e muito calculista. Já o menino, foi apenas o executor”, explicou Nasser Salmen. No celular da menina existem muitas fotos de armas e de volumes expressivos de drogas, conforme informou o delegado.
Desesperada
O comportamento da menina, em casa, era normal. Pelo menos foi assim que explicou a mãe dela, que estava desesperada na delegacia. “Cheguei em casa ontem, conversamos, perguntei se estava tudo bem e ela disse que sim. Me contou até que tinha feito quatro provas de matemática”, disse. Segundo a mãe, a garota estava fazendo a janta quando ela chegou e preparou ainda uma marmita para que ela levasse ao trabalho no dia seguinte. “Deitamos e ficamos conversando um bom tempo. Ela não demonstrou nada pra mim”.
A garota era o braço direito da mãe dentro de casa. “Um comportamento normal, exemplar. Me ajudava e muito. Fazia comida, me ajudava em casa, pagava até as contas de casa pra mim. Ela também cuidava da filha da vizinha. Pra mim, uma filha dedicada”. A mãe lembrou que, no passado, a filha chegou a fugir de casa, porque “queria conhecer a rua”, mas achava que isso já tinha sido resolvido entre elas, com o retorno para a casa. “Mas não sabemos o que se passa na cabeça de um adolescente”.
Os 15 anos da garota estavam próximos, em outubro. E a data, que costuma ser tão esperada pelas meninas, para ela será diferente. Sobre o que poderia ter motivado o crime, a mãe acredita que possa ser, em partes, pelas amizades. Segundo ela,, o menino que estava com a garota mora próximo à casa da família e que era pouco conhecido. “Mas ela nunca teve amizade com ele e agora soube que eles agiam juntos. Meu Deus”, disse a mãe.
De acordo com a mãe da garota, o celular dela era vasculhado a cada 15 dias e em casa elas não tinham internet. Mas a mãe não tinha conhecimento das fotos – encontradas pela polícia –, que estavam no aparelho. “Até cheguei, no passado, a confiscar o telefone dela, mas por causa de fotos sensuais. Nas ultimas semanas que não olhei o celular, mas não pensava que isso tudo poderia estar acontecendo. Ela estava até namorando”, lamentou.
Durante a entrevista que a mãe da garota deu à reportagem da Tribuna, ela lembrou de um único momento em que a filha apresentou sinais de que algo errado teria acontecido. “Ela perguntou pra mim se eu tinha visto minha faca. Eu não entendi, mas falei pra ela que a faca devia estar na cozinha. Ela disse que limpou o armário e não tinha encontrado, eu achei estranho. Ela disse ‘ah, uma hora dessas aparece’. E eu falei que tinha que aparecer, porque era a única faca grande que a gente tinha”, contou. A mãe foi saber da notícia pela manhã, através da diretora da escola.