Depois de manter silêncio por quase cinco anos, o jovem professor Aristóteles Smolarek Júnior, 26 anos, acusado de ter matado a mulher em Santiago, no Chile, resolveu falar sobre o caso e também sobre outras acusações que lhe foram feitas nos últimos tempos. Recolhido na cela 620 da 6.ª galeria da Prisão Provisória de Curitiba, no Ahu, ele é o que se pode chamar de preso exemplar. Quieto, passa os dias trabalhando no setor de montagem de componentes de uma fábrica de chuveiros e à noite estuda inglês e leis. Conhece bastante bem o processo a que responde e ainda procura ajudar outros presos que o procuram com dúvidas sobre seus respectivos casos.
Smolarek sempre negou ter sido o autor do assassinato de Luciene Ribeiro de Paula, na época com 18 anos. Eles haviam se casado dois meses antes da viagem ao Chile, numa cerimônia íntima, da qual a família dela não participou. O rapaz registrou a filha de Luciene, então com 8 meses de vida, como sendo sua e fez um seguro de vida em nome da esposa, no valor de US$ 250 mil, em que ele e a filha são os beneficiários.
Dias depois de terem chegado a Santiago, Luciene desapareceu misteriosamente e só foi encontrada uma semana mais tarde, com a cabeça rachada a golpes de taco de beisebol. A polícia chilena investigou, e a Justiça concluiu que Smolarek havia matado a mulher. No entanto, ele nunca foi julgado – embora tenham surgido comentários de que foi condenado a prisão perpétua no vizinho país -, pois a Justiça chilena não julga à revelia.
Morte
Com voz pausada e poucas palavras, Smolarek relembra o caso. “Não matei ninguém, não sou culpado”, diz ele. Na noite em que ela sumiu, conforme versão do acusado, ambos jantaram em um restaurante e ele quis continuar a conhecer a noite chilena, visitar novos bares e boates. Luciene, que estava grávida de seu terceiro filho (ela tinha um menino com 3 anos que era cuidado pelos avós maternos), preferiu voltar para o hotel. “Eu a deixei a 20 metros do hotel e depois não a vi mais”, afirma o rapaz.
Quando voltou ao hotel, já de madrugada, e não encontrou a mulher, ele pediu ajuda aos funcionários, que o orientaram a procurar a polícia. Fez um boletim de ocorrência e aguardou. No dia seguinte procurou o consulado brasileiro e foi orientado a retornar para o Brasil, pois sua passagem estava marcada e se ficasse deveria pagar uma multa de cerca de 500 dólares. “Eles não deram muita atenção ao caso, pois era só um desaparecimento”, diz ele. Smolarek voltou e na semana seguinte o corpo de Luciene foi encontrado.
Inocente
“Não sei o que aconteceu. Suponho que ela pode ter saído sozinha ou pego uma carona com um estranho. Ela tinha um comportamento diferente das pessoas comuns. Foi estuprada quando era criança, trabalhava em boate como dançarina e não dá para prever o que pode ter feito naquela noite”, assegura o acusado.
“Ninguém sabe direito quando ela morreu. Pode até ter sido assassinada depois que voltei para o Brasil”, diz ele. Quanto a provas apuradas pela polícia do Chile que o incriminam, inclusive testemunhas que o teriam visto lavando um carro sujo de sangue e depois pagando para um brasileiro atear fogo no mesmo veículo, Smolarek desmente tudo. “Nunca fui submetido a um único reconhecimento, não tive qualquer chance de defesa ou oportunidade de dar uma única explicação para a polícia do Chile, então este processo está cheio de falhas”, garante.
Suspeito poderá ser levado a júri popular
No dia 6 de fevereiro próximo o Tribunal de Justiça deverá julgar um recurso no qual Aristóteles Smolareck Júnior pede que o processo instaurado no Chile – e trazido para o Brasil através da seguradora – seja anulado, pelas falhas que contém. Ele argumenta inclusive que a Justiça competente para julgá-lo seria a Federal e não a Estadual. Também a família de Luciene buscou ajuda junto à Ordem dos Advogados do Brasil – seção Paraná – e pediu que o suspeito respondesse a um processo no Brasil e fosse julgado aqui, já que sempre foi o principal suspeito do crime.
Smolareck acha que os desembargadores não irão acatar seu recurso. “Suponho que vão me mandar a júri popular”, diz ele, em virtude de algumas situações existentes nos autos que o incriminam. “Mas também será bom ser submetido a júri, pois assim, pela primeira vez, terei chance de me defender. De contar a minha versão dos fatos e provar que nada fiz contra Luciene”, diz.
Filha
Ele também sabe que há uma ordem da Justiça para que a menina Vanessa, que ele registrou como sendo sua filha quando ainda era bebê – hoje ela está com 5 anos – seja devolvida ao pai biológico. “A Luciene sempre disse que a filha era minha. Eu acompanhei a gestação, o parto e crio a menina até hoje. Ela me chama de pai e sequer conhece esta pessoa que está agora reivindicando a paternidade”, salienta o rapaz. Smolareck diz crer que o suposto pai só apareceu agora porque soube que a menina teria direito ao seguro de vida feito antes da morte da mãe.
“Para evitar que este seguro cause mais problemas, mesmo ganhando a ação penal eu vou cancelá-lo. Ninguém vai receber esse dinheiro”, sentenciou. Ele também vai lutar pela guarda da filha, batendo de frente com a família de Luciene, que sonha em recuperar a criança. “Não tenho notícias da menina, que está sob os cuidados da minha mãe”, diz ele.
Vida nova
Respondendo também a um processo por estelionato – um carro que locou em Foz do Iguaçu foi roubado em Ciudad del Este (Paraguai) e a locadora registrou queixa contra ele – Smolareck sonha em recomeçar a vida. Ele casou de novo e sua mulher está grávida de 3 meses. “Quero sair daqui, ter uma vida normal e tentar esquecer esse pesadelo”, afirmou.