Acaba sigilo sobre milícias

O Ministério Público Federal (MPF) divulgou, ontem, todas as informações sobre o processo que investiga a formação de milícias armadas em Ponta Grossa que patrulhavam propriedades rurais. O escândalo veio à tona em abril, quando a Polícia Federal (PF) desencadeou a operação Março Branco, que resultou na prisão de oito pessoas, entre elas o tenente-coronel da Polícia Militar Valdir Copetti Neves, acusado de chefiar milícias armadas que recebiam dinheiro de fazendeiros para patrulhar fazendas e impedir invasões de sem terras.

O MPF ofereceu denúncia contra 19 pessoas no mês passado. No entanto, as informações sobre o caso só puderam ser divulgadas ontem, quando a juíza Sílvia Brollo, de Ponta Grossa, suspendeu o sigilo de Justiça no processo. Dos oito crimes dos quais os réus são acusados, Neves responde por sete: tráfico internacional de armas, formação de quadrilha, porte ilegal de arma de uso restrito, exercício arbitrário das próprias razões e constrangimento ilegal, denunciação caluniosa, falso testemunho e posse de drogas. Caso Neves seja condenado por todos estes crimes e seja proferida pena mínima para cada um deles, ele pode ficar preso por, no mínimo, 15 anos.

Réus

Na segunda-feira, a juíza de Ponta Grossa começou a ouvir os réus, interrogando inclusive Neves. De acordo com o procurador da República que está trabalhando no caso, Oswaldo Sowek, ainda faltam ser ouvidos nove fazendeiros, que financiavam o grupo armado: Maria Helena Coimbra Ribas, Manoel Ribas Neto, Ferdinando Scheffer Junior, Elmir José Groff, Waldemar Vriesman, Nelson Antônio Gomes, Afonso Weigert Saldanha, Alberto Luiz Prins e Henrique Prins. Hoje, quatro deles devem prestar depoimento e na segunda-feira, os outros cinco serão ouvidos.

A Justiça concedeu prazo até o dia 17 para que os defensores dos réus apresentem a chamada defesa prévia. Sowek explica que esta peça geralmente afirma a inocência dos acusados e apresenta as testemunhas de defesa. A data para ouvir estas testemunhas só deve ser fixada no dia 27, quando a Justiça terminará de colher depoimento das testemunhas de acusação, que começam a ser ouvidas no dia 21. De acordo com o procurador, três testemunhas serão ouvidas por dia.

"Terminada a fase dos depoimentos de réus e testemunhas, é dado um prazo para que as partes requeiram novas provas. Depois disso são feitas as alegações finais e o Ministério Público Federal pede a condenação ou absolvição dos acusados. Como os réus estão presos, estes trâmites não costumam demorar. Acredito que em 60 dias os trabalhos sejam finalizados", afirma Sowek.

A maior parte dos 19 acusados continua presa. Ontem, o MPF solicitou a liberdade provisória de Silvana Araújo e Carlos Ney Ferreira, acusados de serem os informantes de Neves dentro do acampamento do MST. O pedido foi acatado pela juíza e ainda hoje ambos devem ser libertados. Eles responderão pelos crimes de formação de quadrilha e falso testemunho. Outros pedidos de liberdade já foram negados pela Justiça, inclusive um habeas corpus impetrado pelos advogados de defesa do coronel Neves.

Dinheiro de fazendeiros

O grupo de "patrulhamento" chefiado pelo tenente-coronel Valdir Copetti Neves começou a funcionar em outubro do ano passado e era financiado por fazendeiros da região de Ponta Grossa. Os militares da reserva Ricardo José Derbes, José Valdomiro Maciel Nereu e Paschoal Moreira e os ex-PMs João Della Torres Neto e Adair João Sbardella era responsáveis pela ronda. Eles utilizavam armas sem registro e importadas irregularmente, além de não possuírem porte de armas.

Em dezembro de 2004, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam uma fazenda da Embrapa, vizinha ao sítio São João, de propriedade de Neves. De acordo com as informações do MPF, Neves iniciou, com outros integrantes da quadrilha, uma "investigação" dos sem terra e determinou, inclusive, o uso de violência, numa tentativa de desocupação forçada da propriedade. A ação resultou em confronto, mas não levou à saída.

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