O Parolin é uma região perigosa e violenta. Isso é sabido há muito tempo. Entretanto, nas últimas semanas, a situação piorou e, praticamente todos os dias são registrados casos de pessoas feridas ou mortas, numa cruel disputa entre membros de gangues rivais, que querem dominar os pontos de tráfico de drogas e firmarem-se como os ?xerifes? da área. A violência é tamanha, que pessoas de bem e indefesas – como mulheres e crianças de colo – estão sendo vítimas desta guerra que se estende há mais de um ano. Somente na manhã de ontem, entre às 8h e 10h, três pessoas foram baleadas na vila e encaminhadas pelos socorristas do Siate ao Hospital Cajuru. Mais tarde, dois suspeitos dos atentados foram detidos e estão sendo investigados.
Tereza Sauer Barros, 38 anos, e seu neto, Guilherme dos Santos Lima, de 3, foram baleados dentro do casebre que ocupavam, em um beco que abriga outras moradias semelhantes, que se amontoam na Rua Professor José Farini Mansur Guérios. Tereza foi baleada na barriga e Guilherme levou um tiro na perna. Comentou-se que teriam sido vítimas de balas perdidas, em um tiroteio travado pelas gangues rivais. No entanto, há quem diga que um grupo invadiu o casebre e descarregou suas armas para atingir quem estivesse dentro, independente de idade ou sexo.
Duas horas antes, por volta das 8h30, outro rapaz foi baleado no Parolin. Fferido com um tiro no braço, ele conseguiu dirigir sua motocicleta, placa AGE-0410, até a esquina das ruas Brigadeiro Franco e Presidente Keneddy para pedir ajuda a uma viatura da PM que estava estacionada no local. O siate foi acionado e levou a vítima ao hospital.
Nas paredes, as marcas de balas, cujas capsulas ficam espalhadas pelo chão.
(Foto: Daniel Derevecki)
Guerra
?Cuidado que pode ter mais tiroteio hoje?. Do portão de uma das casas da vila, um homem gritava, alertando os repóteres da Tribuna, que registrava a intranqüilidade dos moradores logo após o tiroteio no barraco.
Com semblante de medo, os moradores trocavam olhares assustados, acompanhando o vai e vem de policiais militares que patrulhavam a área depois dos disparos. Na rua onde ocorreu o episódio, muitas pessoas não quiserem sequer conversar com a reportagem, dando respostas curtas e ríspidas. Outras reclamavam da insegurança e da falta de policiamento na região.
A reportagem percorreu becos da vila com a ajuda de um grupo de adolescentes – com idades entre 14 e 19 anos – que mostrou as marcas da guerra urbana. Andando por corredores estreitos, entre casas humildes, era possível encontrar no chão cápsulas deflagradas de vários calibres e buracos de bala pelas paredes. Também não foi difícil localizar vítimas do conflito. Durante o trajeto percorrido, foi encontrado um garoto de 14 anos, que foi baleado na madrugada de quinta-feira – recebeu um tiro de raspão nas costas na Rua 24 de Maio – e outro adolescente com o dedo enfaixado, também vítima de arma de fogo.
?Isso aqui é um inferno?, confidenciou uma moradora, reforçando a sensação de que as brigas são constantes, como numa vedadeira guerra. Nas casas visitadas pela reportagem, as marcas de tiros fazem parte da decoração. E os moradores desolados, apenas agradecem a sorte de não terem se transformado em novas vítimas de tanta violência.
?O inferno é aqui!?,dizem moradores
Foto: Daniel Derevecki/Tribuna |
Becos dividem territórios. |
As já difíceis condições de sobrevivência na favela do Parolin, uma das mais centrais de Curitiba, são agravadas pela violência desenfreada. Moradores, mesmo com medo de represálias, confirmaram que existe uma ?guerra? declarada entre o grupo que ocupa a parte alta da favela, contra aquele que tomou conta da parte baixa. Quanto ao motivo da disputa, ninguém quer falar. As pessoas sabem que qualquer informação ou queixa, pode significar a morte.
Pelo que foi apurado, o confronto acirrou-se após o assassinato de Braz Valdevino dos Santos Lima, 38 anos, ocorrida nos primeiros dias de julho de 2005. Ele foi executado à tarde, num corredor de passagem em meio aos casebres, próximo à Rua Padre Isaías de Andrade, após almoçar com parentes. Segundo informações que surgiram na época do crime, o matador estava de ?tocaia?, aguardando sua vítima para uma ?queima de arquivo?. Braz teria informações sobre o homicídio de um outro jovem, de 16 anos, ocorrido dias antes na Rua Eugênio Parolin. Para não revelá-las à polícia, teve a ?boca fechada? a tiros.
Mortes
As disputas das gangues e as regras de extermínio ditadas pelos traficantes que tomam conta da região, impõem ao Parolin um cenário de morte. Os assassinatos acontecem por qualquer motivo: um olhar torto, um acerto de contas, uma rixa ou pela cobrança do tráfico.
Na última semana, contando com os crimes de ontem, ocorreram duas mortes e oito pessoas foram baleadas (ver quadro). O levantamento corresponde somente aos fatos acompanhados pelo Tribuna, podendo alcançar um número ainda maior, já que muita gente prefere não denunciar agressões.
Insegurança faz família se mudar
Uma hora depois do tiroteio em que uma criança e sua avó foram baleadas, a Tribuna flagrou – na Rua Professor José Farini Mansur Guérios -, uma família carregando as malas em um táxi para ir embora da região. A ação reflete o sentimento de medo que toma conta do os moradores do Parolin. Segundo o grupo de garotos que acompanhou a equipe de reportagem, quase todos os dias e em qualquer horário, a ?gangue da parte de cima? do bairro desce para invadir barracos e atirar contra seus moradores. A ação inversa deve ser verdadeira, porém o grupo entrevistado não confirma. Conforme os garotos, a gangue rival anda bem armada e comete os crimes para ?queima de arquivo?.
Patrulhamento resulta em três prisões
Foto: Átila Alberti/Tribuna |
PMs correram todo o bairro, após tiroteio. |
Policiais militares que patrulhavam o Parolin, ontem pela manhã, conseguiram prender três indivíduos acusados de envolvimento em vários crimes ocorridos no bairro. O trio também é suspeito de participar do tiroteio em que a avó e seu nteo foram baleados. Ezequiel dos Santos Lima, 18; Cleverson Rodrigues Chagas e um menor, de 16 anos, foram capturados portando um revólver calibre 38 e uma pistola 380.
De acordo com o capitão Mário Lúcio Tatim, da 2.ª Companhia do 13.º Batalhão, responsável pelo policiamento no Parolin, Ezequiel e Cleverson já estavam com prisão preventiva decretada por roubo e têm passagem por homicídio.
Ezequiel estaria envolvido na morte de Jean Maria Prestes, 27 anos, ocorrida na tarde da última quarta-feira. Ele e Cleverson também teriam participado de outro tiroteio, na madrugada de sábado, quando cinco pessoas foram feridas e uma morta. Um dos baleados, Jurandir Batista de Lima, 33, morreu ontem no hospital. Cleverson ainda é suspeito de ter participado da morte de Edivaldo Saldanha, 21, considerado um dos bandidos mais perigoso do bairro. Apontado como autor de diversos homicídios, Edivaldo foi executado no dia 13 de maio último, com mais de 25 tiros, no barraco onde morava, na Rua Isaías de Andrade. A Delegacia de Homicídios ficará responsável por investigar todas as acusações que recaem sobre a dupla.
Crimes
Capitão Tatim, do 13.º BPM. |
Desde janeiro de 2006, pelo menos 15 pessoas foram assassinadas no Parolin. Para o capitão Tatin, as mortes estão diretamente ligadas ao tráfico de drogas.??Não acredito que haja rixa entre gangues rivais, mas sim um briga entre todos os traficantes por pontos de drogas no bairro?, disse o oficial.
Através do Projeto Povo, criado há cerca de um ano, os policiais militares responsáveis pelo policiamento no Parolin procuram trabalhar diretamente com a comunidade, para reduzir a violência. ?Nós procuramos ir de casa em casa para fornecer nosso telefone e ajuda às pessoas de bem. Com isso recebemos muitas informações dos criminosos que agem ali. Também fazemos blitz e arrastões com policiais a pé, de viatura ou motos. Sabemos que a situação é critica pelo comércio de entorpecente e por isso estamos agindo com rigor, explicou o capitão. (PC e GU)