63 fogem do 7.º DP por túnel de quatro metros

Um túnel com quatro metros de comprimento foi cavado a partir de uma das celas do 7.º Distrito Policial (Vila Hauer) e propiciou a fuga em massa da carceragem, no final da noite de domingo. 63 presos escaparam e até o final da manhã de ontem apenas 13 haviam sido recapturados. Dos 50 detentos que ganharam as ruas da capital, cinco são condenados. A grande maioria está envolvida em furtos, roubos e tráfico de drogas.

De acordo com o delegado Hamilton da Paz, titular do distrito policial, por volta das 23h40, os plantonistas perceberam uma movimentação anormal na carceragem. No lado externo do prédio nada foi constatado, mas ao subirem no telhado, os policiais avistaram os detidos saindo pelo Colégio Estadual Segismundo Falarz, que fica ao lado do distrito policial. A partir da descoberta foi solicitado reforço policial ao Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) e à Polícia Militar. Com a chegada das viaturas a situação foi normalizada e tiveram início as buscas aos fugitivos.

O delegado explicou que o túnel foi escavado no próprio domingo e em poucas horas. O buraco foi aberto no xadrez número 9 e teve como saída o anfiteatro da escola, que é utilizado pelos alunos como sala de vídeo. No referido xadrez estavam recolhidos oito detentos. Os demais presos quebraram e serraram as grades de divisão existente entre as celas e chegaram até onde foi cavado o túnel. Na seqüência ocorreu a fuga em massa. Para cavocar a terra, os marginais utilizaram ferramentas rústicas, criadas por eles, e colheres. Hamilton da Paz ressaltou que, desde que assumiu o 7.º DP, em novembro de 2004, essa foi a primeira fuga. Entretanto, outras debandadas ocorreram no passado, o que deixou a estrutura do prédio vulnerável.

Aliada à fragilidade da cadeia, a condição desumada em que os presos estavam vivendo incentivaram a fuga. Na carceragem do 7.º DP estavam alojados 106 presos, sendo a capacidade estimada para 24. "Não aconteceram fugas antes, porque temos o costume de realizar vistorias na carceragem três vezes por semana", explicou o delegado.

O prédio foi construído em 1976 e possui atualmente dez celas. No início da manhã de ontem, os presos que não fugiram permaneceram num corredor de passagem, fora das celas, para que uma empresa pudesse fazer os reparos na carceragem: tapar o buraco e soldar as grades quebradas.

A última fuga no 7.º DP aconteceu em 24 de outubro de 2004, quando escaparam quatro presos.

Medo em pais, alunos e professores

O anfiteatro do Colégio Estadual Segismundo Falarz foi o local de saída para os presos que escavaram um túnel a partir da carceragem do 7.º DP. A passagem dos presos pela sala era visível ainda na manhã de ontem, pois eles deixaram esparramados pelo local diversas peças de roupas, tênis e outros pertences. Alguns bebedouros da escola foram utilizados pelos bandidos para se lavar, antes de pular o muro do estabelecimento de ensino. De acordo com o diretor Elson Ribeiro, desde que teve início o seu mandado, em 2001, essa foi a terceira vez que o colégio foi usado como passagem de marginais em fuga. Entretanto, foi a primeira vez que utilizaram o interior da escola como corredor. Nas outras fugas, os caminhos escolhidos foram os muros e o telhado.

Como a fuga aconteceu na noite de domingo, não houve tempo hábil para que o diretor avisasse os alunos e suspendesse as aulas. Por isso, os estudantes compareceram normalmente, mas o assunto discutido entre eles não poderia ser outro – a fuga dos vizinhos nada ilustres.

Preocupação

Ribeiro se diz bastante preocupado com a situação de ter um "minipresídio"" funcionando ao lado da escola. "Alunos, pais e professores têm medo e a sensação de insegurança é grande" afirma o diretor. Prova disso, é que o número de alunos matriculados no estabelecimento de ensino tem caído nos último anos. Atualmente 1.400 alunos estudam no colégio, mas esse número já chegou a 2.400. "Perdermos mil alunos em decorrência do medo que as famílias sentem", explicou Ribeiro.

O diretor disse que já solicitou providências às autoridades pedindo para que a carceragem do 7.º DP fosse interditada e que não recebesse mais presos. Além disso, é pedido também para que os homens que permanecem presos sejam transferidos para o sistema penitenciário. "Gostaria de acreditar que o governo terá a sensibilidade necessária para resolver esse problema. Já conversei com o secretário da Segurança expondo a situação", concluiu o professor.

Carceragem já "esvaziada"

A esperança de pais, alunos e professores de estudar e trabalhar em paz é traduzida na vontade da retirada dos presos do 7.º DP. Isso poderá acontecer quando a Penitenciária de São José dos Pinhais estiver concluída. A previsão é de que as obras estejam terminadas no final deste mês. O presídio terá 900 vagas destinadas, exclusivamente, a presos provisórios.

Sobre a situação atual, a Secretaria de Segurança estuda a intensificação do policiamento no 7.º DP para impedir novas fugas e, assim, acabar com a sensação de insegurança vivida pelos moradores da Vila Hauer.

Mesma história

Ressalta-se que em 16 de abril de 2003 ocorreu a transferência de todos os presos que estavam na carceragem do 7.º DP e isso foi motivo de muita comemoração entre moradores e comerciantes da região. Na época, a transferência foi possível com a construção da Casa de Custódia de Curitiba, na Cidade Industrial, que recebeu os detidos. A promessa era de que a carceragem do 7.º DP seria desativada e que receberia apenas presos eventuais, detidos em flagrante, e somente o tempo necessário para o encaminhamento ao sistema penitenciário.

Aos poucos a carceragem voltou a ser ocupada, principalmente devido a defasagem de vagas nas penitenciárias do Estado. Agora, os moradores da região do Vila Hauer e Boqueirão recebem das autoridades um novo compromisso de que o problema da superlotação carcerária no 7.º DP será normalizado com a construção de novos presídios.

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