A catedral de Colônia, uma das mais famosas do mundo, fica perto do hotel em que
a delegação do Japão está hospedada à espera do jogo de quarta-feira, contra o
Brasil, pela Copa das Confederações. Os contornos góticos da igreja podem ser
vistos de muitos ângulos na cidade e servem de inspiração e reflexão para quem
os admira. E é quase à sombra desse monumento espiritual, arquitetônico e
artístico que Zico se prepara para um dos momentos mais importantes de sua vida.
Pela primeira vez, ele terá como adversária a seleção brasileira, que defendeu
por mais de uma década.
O coração está dividido, mas a mente não. "Será
uma sensação diferente, porque sempre estive do lado brasileiro", reconheceu
Zico, técnico da seleção do Japão. "Verei muitos amigos, mas não posso
decepcionar os japoneses, porque minha obrigação profissional é com eles." O
treinador de 52 anos aborda vários aspectos importantes da Copa das
Confederações, um torneio preparatório para o Mundial de 2006, mas que pode
significar novo passo na afirmação do futebol japonês como potência na Ásia.
Zico voltou a viver, nesta segunda-feira, como nos tempos em que era a estrela
nacional e se viu cercado de microfones, de câmeras, de repórteres não
japoneses, mas brasileiros, que foram encontrá-lo em um momento delicado, que
representará a eliminação de sua equipe ou do time dirigido por seu amigo Carlos
Alberto Parreira.
Veja os principais pontos de sua entrevista nesta
segunda-feira:
Enfrentar o Brasil
"Desde que assumi o cargo, sabia que
isso um dia podia acontecer. Melhor até que venha a ocorrer na Copa das
Confederações e por enquanto não em Mundial, mesmo que seja numa situação de
matar ou morrer. Não sei como vou reagir na hora em que tocar o hino nacional.
Sempre estive do lado do Brasil, ou como jogador ou em outras funções, e será
uma situação nova. Mas é uma possibilidade na profissão, e agora ela vai se
tornar realidade."
Dedicação
"Não resta dúvida de que, ao olhar para o lado
dos brasileiros, só verei amigos. Tem o Juan, que começou no projeto Nova
Geração, de que eu participei. Tem o Adriano, que iniciou carreira no Flamengo e
de quem gosto muito. Tem o Rodrigo Paiva (assessor de imprensa da CBF), que é um
grande amigo. Mas tenho obrigação com os japoneses. Eles confiam em mim e, se
perceberem que posso ter um comportamento diferente daquele que esperam, podem
se perder. Não quero que o time se perca nesse aspecto, ainda mais numa fase
como a que estamos atravessando."
Eliminação
"Dia desses, conversava
por telefone com um amigo, que lembrou um episódio que ocorreu com o Bebeto de
Freitas. Houve um tempo em que ele treinava a seleção masculina de vôlei da
Itália e enfrentou o Brasil em uma Copa do Mundo. Os italianos ganharam por 3 a
2 e isso significou a desclassificação brasileira. Ele ficou com uma sensação
ruim por ter desclassificado o Brasil, mas era o trabalho dele. A minha função
hoje é a de treinar o Japão e de fazer o melhor para minha seleção. Ela é
importante, independentemente dos laços afetivos que eu
tenha."
Relacionamento
"Admiro muito o Parreira e recentemente nos
encontramos numa pelada que jogo às quartas-feiras. Conversamos, mas não temos o
hábito de nos vermos com freqüência. Mas é um relacionamento muito cordial,
embora não nos falemos muito por telefone, por exemplo."
Pressão
"O
Japão se animou, depois da vitória sobre a Grécia, e isso será bom, do ponto de
vista psicológico. Já o Brasil entrará mais pressionado, por causa da derrota
contra o México. Pena que meu time tenha desperdiçado muitas oportunidades de
gol, tanto na derrota para os mexicanos como na vitória diante dos gregos.
Talvez estivéssemos em uma situação mais confortável, quem sabe a de podermos
jogar pelo empate, como acontece com o Brasil."
Jejum
"Não tivemos
sorte ainda contra sul-americanos. Desde que assumi, não conseguimos vencer
quando enfrentamos equipes dessa região. Mas, no caso do Brasil, não
creio que meus jogadores se sentirão inibidos, porque a maioria é experiente e
já teve oportunidade de jogar contra a seleção."
Futuro
"Meu contrato
estava vinculado à classificação para o Mundial do ano que vem. Se
conseguíssemos vaga, como de fato aconteceu, ele seria estendido normalmente. Se
tivéssemos sido desclassificados, aí conversaríamos a respeito, após as
Eliminatórias."