Quando foi acusado de abuso sexual de menores, em novembro de 2004, Zequinha Barbosa já havia deixado o atletismo havia quatro anos. Alguns amigos e técnicos o acolheram, e o ex-atleta achou que a possibilidade de voltar a correr seria uma chance de se reerguer e melhorar sua imagem. Absolvido em novembro de 2005, aos 44 anos, ele está voltando às pistas querendo alcançar os índices dos 800m e 1.500 m para os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro/2007.
Nesta terça-feira Zequinha realizou uma bateria de testes, no Cemafe (Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte), para saber se está apto a começar a competir. "Nunca parei de correr. Fazia mais um trabalho de manutenção, mas não fazia mais musculação e trabalho de força – não era mais a vida de um atleta. Voltei a treinar mesmo em outubro do ano passado e tive sorte, já que meu peso não mudou muito", conta.
Ele garante que foi o esporte que o ajudou a dar a volta por cima: "Passei por tanta coisa, tantos problemas, que quero mais é mostrar para os outros que todos temos de lutar para viver. Voltar a correr é também um projeto de inclusão social."
Sem nenhum patrocinador, Zequinha conta com o apoio de uma equipe formada pelo técnico Luiz Alberto Oliveira e médicos renomados como Turíbio Leite de Barros e Paulo Zogaib. "Todo o dinheiro que eu tinha foi tirado naquele processo. Estou treinando com a reserva de tudo o que conquistei no esporte. Naquela confusão, me viraram de cabeça para baixo e me arrebentaram. As coisas estão se acertando agora, aos poucos", desabafa.
"Quando aconteceu tudo aquilo, a Federação Paulista de Atletismo me acolheu. Trabalhei ajudando a assessoria de imprensa. Eu ajudava com a parte técnica, explicando como são as competições, por exemplo. Também fui até voluntário na etapa de São Paulo da Copa do Mundo de Ginástica (em abril do ano passado)", explica.
Mesmo com a absolvição, Zequinha não se mostra satisfeito com o fim o caso. O tribunal decidiu que não foi um caso de exploração sexual porque as meninas, de 13 a 15 anos na época, já tinham se prostituído antes. "É como se me dissessem que eu fui inocentado por ter roubado algo pequeno. Mas não é por aí – se eu tivesse sido pego, se tivessem provas do abuso, então que me prendessem. Mas não tinham provas, deveriam ter me inocentado totalmente."
A última competição que Zequinha disputou foi o Troféu Brasil, no Rio de Janeiro, em 2000. Apesar da empolgação, o atleta sabe que não será fácil vencer o desafio de disputar o Pan. "São duas vagas: uma para o primeiro do ranking brasileiro e outra para quem vencer o Troféu Brasil, em junho de 2007. Sei que não será fácil, mas vou buscar o ?sim?. O ?não? já me deram – ninguém acredita que um atleta de 46 anos possa chegar a um Pan", diz ele, que está no terceiro semestre da faculdade de Educação Física.
Se ele está preparado para enfrentar nova geração? "Não tem muito essa de vencer a garotada. É uma situação recíproca: eles me têm como ídolo e querem me ver competindo; assim como eu me sinto motivado em treinar ao lado deles. Mais do que Pan, quero que as pessoas acreditem que todos têm de brigar para vencer na vida."