Walter Pecoits, referencial de idealismo

O Paraná perdeu mais um referencial de político honesto, intimorato e coerente nas suas convicções, com a morte, aos 86 anos, do ex-deputado estadual Walter Alberto Pecoits.

Gaúcho, médico de profissão, instalou-se em outubro de 1952 na nascente cidade de Francisco Beltrão, onde construiu hospital e exerceu a medicina como verdadeiro sacerdócio.

Quando na década de 50 os colonos do Sudoeste do Paraná, já cultivando com afinco e dedicação as terras que haviam adquirido, estavam em risco de serem desalojados de suas glebas por uma colonizadora grileira, que gozava de proteção de forças poderosas, Walter Pecoits colocou-se a frente de um movimento de resistência que mobilizou milhares de pequenos agricultores, a maioria provindo do Rio Grande do Sul.

A revolta eclodiu em 1957 e tomou inevitáveis características armadas para o enfrentamento de jagunços e de forças policiais, a serviço das empresas pretensamente donas das propriedades.

O esbulho não se consumou e a posse do chão continuou com os colonos, mas a pendência só teve solução definitiva no governo João Goulart (set/1961 a março/1964), com a criação do Grupo Executivo de Terras do Sudoeste do Paraná (Getsop) em convênio como governo estadual e sob a direção do engenheiro Deny Schuartz.

Walter Pecoits exerceu plenamente a política nas fileiras do antigo Partido Trabalhista Brasileiro, ao lado de Euclides Scalco e outras lideranças da região, desde o tempo do saudoso senador Abilon de Souza Naves.

Outra presença importante na região Sudoeste, inclusive na “guerra” em favor dos colonos, foi a do ex-deputado estadual e federal Antonio Annibelli, o único trabalhista que assumiu o governo do Estado como Presidente da Assembléia Legislativa, por ocasião da renúncia de Bento Munhoz da Rocha para assumir o Ministério da Agricultura em fins de 1954.

O antigo PTB nunca perdeu eleição em Francisco Beltrão e foram eleitos prefeito, sucessivamente, Walter Pecoits (exercia a vereança), Euclides Scalco, Antonio de Paiva Cantelmo e Deny Schuartz, todos pertencentes às fileiras trabalhistas.

O médico Mario de Barros, em 1955, e Nelson Maculan, em 1960, candidatos do Partido Trabalhista Brasileiro a governador não conseguiram vitoriar-se no Estado do Paraná, contudo ganharam em Francisco Beltrão por expressiva margem de votos; ademais venceram na região como um todo. No também cargo majoritário de Senador, o eleitorado do município de Francisco Beltrão e do Sudoeste consagrou nas urnas com grande votação os candidatos eleitos pelo PTB em 1958 e 1962, respectivamente Abilon de Souza Naves, falecido em 12 de dezembro de 1959, e Amaury de Oliveira e Silva, Ministro do Trabalho de João Goulart, cassado pelo regime militar em 1964 (falecido em 2003).

Walter Pecoits eleito deputado estadual pelo PTB, em 1962, vinha se notabilizando por combativa e fecunda atuação, quando foi injustamente fulminado pelo arbítrio, que lhe cassou o mandato em 08 de agosto de 1964. Transitando por Cascavel, em viagem ao oeste, sofreu o constrangimento de absurda prisão, sendo violentamente agredido pela polícia estadual, perdendo uma vista. Processou os opressores e a Justiça reconheceu seus direitos, condenando os responsáveis.

No governo José Richa, candidato do PMDB que chegou ao Palácio Iguaçu em 1982, Walter Pecoits exerceu a Chefia da Casa Civil, sucedendo Euclides Scalco, também de Francisco Beltrão, que tempo depois, no governo Fernando Henrique Cardoso, viria ocupar a direção geral da Binacional Hidrelétrica de Itaipu e o Ministério da Secretaria Geral da Presidência da República.

Na gestão do governador João Elisio Ferraz de Campos, Pecoits assumiu a Secretaria de Assuntos Fundiários, cumprindo esta função, bem assim as tarefas da Casa Civil, com sabedoria, dinamismo e o entusiasmo de um adolescente.

Durante os 8 anos de administração Jaime Lerner, já com idade avançada, por puro idealismo e vocação de homem público, Walter Pecoits esteve na Chefia do Núcleo de Saúde do Sudoeste, com sede em Francisco Beltrão.

Walter Pecoits viveu e serviu à coletividade em cargos legislativos e executivos, ou no exercício da medicina, com integral devoção, probidade incontroversa e idealismo cívico. Ficam seus exemplos para serem lembrados e seguidos pelos que militam na vida pública.

Léo de Almeida Neves

ex-deputado federal e ex-diretor do Banco do Brasil. Autor dos livros Destino do Brasil: Potência Mundial, Editora Graal, RJ, 1995, e Vivência de Fatos Históricos, Editora Paz e Terra, SP, 2002.

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