Voto não é miçanga

Os jornais repercutiram ontem os resultados da pesquisa Ibope Opinião para a União Nacional dos Analistas Técnicos de Finanças e Controle (Unacon) e Transparência Brasil, com a finalidade de aferir junto ao eleitorado a dimensão do assédio dos candidatos e, se ocorre, de alguma forma, a oferta de vantagens pecuniárias e/ou materiais em troca do voto.

A partir de agora, com as conclusões da pesquisa, não há mais dúvida quanto à veracidade da pressão exercida pelos candidatos a cargos eletivos sobre os votantes, pelo visto, os mais humildes. E, ademais, fica patenteada a enorme gama de justificativas para o fato de determinadas figuras terem amealhado votos em quantidades, digamos, oceânicas, aliás, tanto maiores quanto são ostensivas as fortunas que exibem.

É na região Sul que o mostrengo da compra de votos se assanha com maior desenvoltura, desfazendo o senso comum de atribuir aos nordestinos, em geral, a pejorativa vocação dos currais eleitorais. De acordo com a pesquisa, o Nordeste contribuiu com apenas 10% do universo de eleitores instados a trocar votos por caraminguás ou uma miçanga qualquer.

Não é de espantar que o índice de 12% de votos mercadejados nas eleições do ano passado tenha sido registrado na região Sul. Aqui estão os candidatos mais ricos do País, com o agravante de que a exagerada performance foi amplificada pela exponencial contribuição do Paraná, onde 22% dos entrevistados afirmaram ter recebido ofertas para a venda do voto.

É fato gravíssimo que num eleitorado de cerca de sete milhões de pessoas, 1,3 milhão admitiu o assédio financeiro de candidatos ou cabos eleitorais, legitimando a suspeita de que grande número de eleitos – dificilmente se saberá seus nomes – valeu-se do ignóbil recurso de aliciar eleitores.

Mesmo diante da impossibilidade de apontar dentre os eleitos quem chafurdou nesse esgoto, a tarefa, além de nauseabunda, é semelhante a procurar agulha em palheiro, pode-se ter a certeza de que muitos chegaram ao topo não por méritos pessoais, formação patriótica ou comprovada dedicação à vida pública, senão pela cornucópia fertilizada por recursos familiares ou interessados em vultosas compensações futuras.

Como dizia Shakespeare, há algo de podre no reino da Dinamarca…

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