A continuação do comércio de armas e munição no País foi aprovada por folgadíssima maioria de votos no referendo realizado domingo. Seria esse resultado um indicativo do gradativo abandono, por parte dos brasileiros, daquela característica de cordialidade a ele atribuída pela sociologia?
Ter-se-iam transformado milhões de patrícios em potenciais criminosos, pelo fato de terem votado contrariamente à proibição da venda de armas de fogo, item vitorioso em todas as unidades da federação?
As respostas são de difícil enunciado e passam a exigir o concurso de especialistas isentos, que não se deixem contaminar pelo passionalismo das razões invocadas pelas frentes que se digladiaram no período anterior ao referendo. Uma boa notícia é que as mesmas devem fundir-se para realizar ampla campanha de esclarecimento sobre o Estatuto do Desarmamento.
Em outras vertentes não desprezíveis do pensamento brasileiro, apurou-se que o voto negativo da maioria se deveu, em elevada proporção, ao desencanto gerado pelo próprio governo que – nesse momento – é responsável por formidável passivo a descoberto em realizações sociais e comunitárias, dentre elas a segurança pública.
Destarte, apesar do mutismo das autoridades e, em muitos casos, da visível tentativa de dissimular as perdas que podem ser maiores em futuro breve, é mister reconhecer que se a maioria optou pelo voto favorável ao comércio de armas, a essência da decisão representa – por que não? – o repúdio ao atual estado de coisas vivido no País.
Cabe ao governo Lula, maior interessado em tirar lições positivas da manifestação resultante do instrumento de democracia direta que é o referendo, vestir o manto da humildade para auscultar sua coleção de erros e, então, reformular a plataforma de boas intenções que não teve o discernimento de implementar.
Não é crível que a maioria da população tenha desenvolvido aptidão e gosto pela posse de armas de fogo (o porte está proibido). Há, e as aparências são gritantes, elementos muito sérios a extrair do não majoritário e essa tarefa não pode ser postergada, como ocorre com tantas providências urgentes.
A nação deu um recado consciente e, como estabelece a correta sabedoria do texto da Escritura, ?quem tem ouvidos para ouvir, ouça?.