Relatórios de perigo do Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer), feitos por controladores de vôos de Brasília (Cindacta-1), informam que aviões desaparecem dos radares, há inúmeras multiplicações de alvos e de pistas e aeronaves mudam repentinamente de altitude. Os relatórios foram entregues ao deputado Wanderley Macris (PSDB-SP), que os repassou ao jornal O Estado de S. Paulo.
De acordo com um relatório do dia 13 de março, os fenômenos de desaparecimento, multiplicação de alvo e mudança de altitude foram verificados com os vôos TAM 3507, 3823, 3863, 3833, 3096 e 3141, da Gol 1567 e 1693, e da VRN 2881. "Informo que ainda estão ocorrendo inúmeras multiplicações de alvo", relatou o controlador. Em seguida, ele enumerou os vôos e as posições em que se encontravam as aeronaves.
O comando da Aeronáutica informou que os relatórios de perigo são todos motivos de investigação do Sipaer. Eles podem ser abertos por controladores de vôo e por qualquer cidadão ao acessar a página do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), pegar o modelo, fazer um relatório e encaminhá-lo à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ou a qualquer autoridade da Aeronáutica ou da Infraero nos aeroportos. Mas por que um cidadão, que não entende nada do assunto, faria um relatório de perigo aeronáutico? O comando da Aeronáutica informou que ocorrem muitos casos, citando exemplo de situações em que o sobrevôo de um helicóptero é muito baixo, a ponto de assustar moradores.
Noutro relatório de perigo, feito no dia 17 de fevereiro, um controlador de vôo informa que, cinco meses depois do acidente com o avião da Gol, em que morreram 154 pessoas, continuam a ocorrer problemas como o controle de altitude. Houve nesse dia, segundo ele, mudança de nível de vôo automático pelo sistema na apresentação na tela de controle. "Isso ainda vem ocorrendo todos os dias em todos os turnos", relatou o controlador.
No dia 8 de fevereiro, outro controlador de vôo fez um apelo. "Faço saber da necessidade de mais operadores-radar no turno de pernoite, compatíveis em número aos turnos da manhã e da tarde, ao fato da soma da carga horária trabalhada no turno, bem como lembrar que o turno do pernoite é de nove horas, menos que os outros dois períodos". Ele disse que o volume de tráfego do pernoite é igual ou superior aos outros turnos.
Também foram entregues ao deputado Wanderley Macris cópias de ocorrências técnicas feitas nos sistema de controle de vôo. Uma delas informa que o monitor do equipamento X-4000 do Cindacta-1 apresentava oscilações, que um computador estava inoperante e que havia problemas com a freqüência 135.550 mhz na região de Três Marias (MG). Também foram relatadas como inoperantes, com eco ou baixas freqüências, os radares sobre as regiões de Jataí (GO), Gurupi (TO) e Varginha (MG).