O PT estuda um documento que expresse a opinião da maioria dos membros do partido, buscando um retorno às suas origens. O motivo mediato do movimento é o descontentamento surgido desde o início do governo Lula contra a política econômica de Antônio Palocci, apoiada pelo presidente, que contraria o que a agremiação sempre pregou. Não só contraria, mas significa adotar as políticas econômica e fiscal dos adversários que foram vencidos nas urnas. Há um indisfarçável sentido ideológico no movimento em busca do retorno, pregado pelos petistas ortodoxos e aqueles que acabaram expulsos da agremiação, tendo à frente a senadora Heloísa Helena, e criaram o PSOL.
O motivo imediato é a crise política e moral em que se engolfou governo, PT e aliados, que parece nunca acabar, embora não fragilize tanto quanto se poderia esperar o prestígio popular do presidente Lula. Os desvios de política econômica e fiscal e ideológicos servem de munição para os adversários do PT na próxima campanha para presidente e estabelecem o temor de que ocorram defecções substanciais nas hostes petistas, que perderiam um grupo numeroso de filiados e mesmo dirigentes que pregaram e continuam pregando a ortodoxia partidária.
Lula se filia ao grupo que não quer o retorno às origens, admitindo apenas algumas alterações cosméticas na política econômica, aceitando relutantemente a tese de que a obtenção, a qualquer custo, de elevados superávites fiscais para pagar credores externos e internos prejudicaram o desenvolvimento nacional e a geração de empregos.
O texto do documento exige, ainda, a redução acentuada das taxas de juros, o que agrada sobremaneira o empresariado nacional e repercute nos interesses da população em geral, seja oferecendo-lhe condições para créditos a custos mais razoáveis, seja abrindo perspectivas de, via desenvolvimento, ofertar mais empregos e melhores salários.
O documento de retorno às origens foi elaborado por um grupo designado pela direção do partido. Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Lula para a área de Política Externa, deu-lhe a redação final. Agora, o texto será analisado e votado pelo diretório nacional do PT, numa reunião marcada para os dias 18 e 19 do corrente mês.
O movimento pelo retorno às origens diz, no documento, que as mudanças devem ocorrer sem esperar as próximas eleições. Este deve ser considerado o ?primeiro ano do segundo mandato?. As mudanças na política econômica não podem esperar 2007. Devem ser feitas imediatamente. O texto foi entregue a 83 membros do diretório nacional e é tratado pelo partido como sigiloso.
A recomendação de que o retorno às origens seja feito já, sem esperar as eleições, além de ser uma reafirmação ideológica de um largo e influente grupo de petistas, é também a confissão de que o governo Lula não tem a aprovação e apreço desses importantes correligionários do presidente. Os três anos de governo, na forma como transcorreram, em especial na política econômica, foram engolidos, mas não digeridos, e só a força catalisadora do poder e o carisma de Lula são responsáveis pelo milagre da unidade partidária mantida até há pouco tempo, quando surgiram as primeiras e expressivas defecções. Se o quadro eleitoral não for dos mais favoráveis, nem essa força catalisadora será suficiente para garantir a desejada reeleição.
