A vitória do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), com o escancarado e oneroso apoio do presidente Lula, foi noticiada pela mídia como mais um episódio da crise que afunda o PT e torna um mar de lama a política nacional. Há poucos analistas que consideram que foi uma vitória de Lula e que o sucesso do candidato comunista, na disputa contra o pefelista (oposicionista) José Thomaz Nonô, foi uma vitória do governo. Como evento político, é listado como mais um capítulo da crise. Seriam, dizem uns poucos, algo que reforçaria Lula e o afastaria um pouco da fogueira da crise. Mas não parece que é isso o que está acontecendo.
Integrantes da oposição questionam os métodos utilizados pelo governo para vencer a disputa. Aldo ganhou por 258 a 243 votos. O líder do PSDB na Câmara Federal, Alberto Goldman (SP), avaliou a indicação de Aldo como um ?suicídio político?. Hoje, declara que ele venceu com a ajuda de deputados que são alvo de processos de cassação por quebra de decoro parlamentar.
?A diferença entre Aldo e Nonô é menor que o número de deputados sujeitos a cassação?, disse o tucano. E acrescentou que o novo presidente da Câmara recebeu votos de deputados que não têm ?autoridade moral?.
A acusação é grave, tanto mais partindo de um líder do PSDB, agremiação de FHC que sempre viu o governo e suas forças, inclusive Lula, com certa condescendência. O ataque foi tão virulento que parece ter reconciliado José Dirceu (PT-SP) com a ascensão do deputado e ex-ministro por ele sempre questionado: Aldo Rebelo. ?Ele (Goldman) é um ?mau perdedor?, disse Dirceu. E acrescentou que, com sua análise, o parlamentar peessedebista ofende a Casa.
Para Nonô, ?o governo jogou o que tinha e o que não tinha. Vamos ver o amanhã?, numa referência às concessões que o governo fez para conseguir eleger o seu candidato. E faz votos de que Aldo receba o espírito da Câmara, ou seja, independente e não ?office boy? do Planalto.
De qualquer forma, há espanto com a coragem de Lula peitando o Congresso e interferindo, da forma como o fez, na eleição do presidente da Câmara. O presidente vinha se desgastando em razão dessa prática, a ponto de ter perdido eleição até para um Severino Cavalcanti. Se essa coragem resultou da esperança de que os processos de cassação esmoreçam, vale o testemunho do ex-presidente da Casa, o petista João Paulo Cunha, um dos cassáveis. Para João Paulo, ?o processo continua, qualquer que seja o presidente?.
Mais do que isso, a ira da oposição foi aguçada com esta derrota e a forma como foi conseguida a vitória de Aldo Rebelo. Aguçados também os sentimentos anticomunistas, menores hoje que há alguns anos, mas ainda remanescentes em certas correntes da sociedade brasileira e principalmente nas forças armadas, pois o novo presidente da Câmara é do PCdoB.
Assim, aumentou o clima de combate ao PT, a Lula e a seus aliados, em razão dos mensalões e caixas dois da coligação que elegeu e apóia o presidente da República.
Além dos depoimentos ainda por serem colhidos, e do próximo envio ao Conselho de Ética da Câmara da relação de deputados cassáveis, já aparecem novas acusações. A mais recente é a incompatibilidade entre a movimentação financeira dos beneficiários desses caixas dois e suas declarações de Imposto de Renda. Convoca-se o Leão para entrar na briga.
