O chamado neoliberalismo do governo Fernando Henrique Cardoso fez a turma do PT chorar e ranger dentes. Chegaram, sob a liderança de Lula, a pedir que o presidente tucano fosse afastado da chefia da nação por praticar uma política econômica que consideravam contrária aos interesses do povo. Nas ruas, exigiram até a moratória da dívida externa ou o calote puro e simples. O Brasil não poderia continuar economizando nos níveis em que o fazia, produzindo elevados superávits primários para pagar os banqueiros e instituições financeiras internacionais, como o Fundo Monetário e o Clube de Paris, quando esse dinheiro fazia falta aqui dentro, para promover o desenvolvimento econômico e permitir políticas sociais que minorassem o sofrimento da maior parte da população, que é pobre. Essa política neoliberal, embora se apresente também em outros aspectos, tinha na produção do superávit primário e na preocupação em pagar prioritariamente a dívida pública, o seu ponto mais criticado.

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Assumindo no primeiro mandato a presidência, depois de três tentativas fracassadas, a surpresa foi que Lula montou uma equipe econômica que implantou uma política neoliberal na qual a economia para pagar os banqueiros era igual à de FHC qualitativamente e mais dura ainda, quantitativamente. Espinhas antes tão rígidas se dobraram e, pouco a pouco, mesmo sob protestos das alas mais autênticas do PT, a prioridade no pagamento aos credores acabou sendo engolida até mesmo pelos mais ortodoxos esquerdistas do governo. E aceita por Lula como sendo sua própria política, dando assim respaldo aos ministros da área econômica e ao Banco Central.

Não obstante a permanência dessa política por toda a primeira administração de Lula, sempre houve no governo uma certa divisão, mesmo que não confessada, entre os que acreditavam que era preciso diminuir o superávit primário, reduzir as reservas para pagamentos dos credores e fazer sobrar algum dinheiro para o desenvolvimento do País, que exigia e exige bilhões para obras de infra-estrutura, modernização dos setores produtivos e geração de empregos.

Dentre os que defendiam essa posição menos neoliberal e mais consentânea com o discurso de mais de duas décadas do PT estavam Dilma Rousseff, atual chefe da Casa Civil, e Tarso Genro, ministro das Relações Institucionais. Dilma, que desponta como uma sólida liderança no governo, chegou a ?peitar? os ministros da área econômica e os dirigentes do Banco Central, insistindo na prioridade de gastos para o desenvolvimento econômico sobre as obrigações de quitar ou rolar a dívida pública.

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A notícia de agora é que ela e Tarso venceram. O grupo palaciano venceu as resistências da equipe econômica e esta já aceita reduzir a economia do governo para pagamento de juros da dívida pública federal. O superávit, fixado em 4,25%, vai cair neste novo mandato diante das decisões do presidente Lula de aumentar os investimentos públicos, principalmente na infra-estrutura. Quer ele, com isto, reduzir o que chama de gargalos da economia e estimular também investimentos privados.

O superávit agora aceito pelo presidente deverá ser da ordem de 3,75% do PIB, o mesmo praticado por FHC. Acredita o governo que, com isso, vai conseguir dinheiro para investimentos, embora o pagamento da dívida pública ocorra mais lentamente. A outra solução, que seria o governo fazer cortes em sua imensa máquina, economizando, continua sendo rejeitada pelo presidente.

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