Vitória da democracia

?Treino é treino, jogo é jogo.? Ouvido o improvisado discurso e a não planejada entrevista de Lula, logo depois de Alckmin haver admitido a derrota nas urnas, chega-se à conclusão de que o atual mandato do presidente foi um treino e que sua intenção é de que o segundo, que exercerá em razão de inequívoca vontade da maioria do povo, é que deverá ser o jogo de fato. Com modéstia e inegável coragem, o presidente reeleito confessou seus erros ou pelo menos admitiu que eles existiram. Disse que nos últimos anos e durante este atual mandato muito aprendeu, inclusive sobre as dificuldades de governar.

Falou do que mais exibiu na vitrine de seu primeiro mandato: os programas sociais. E pareceu claro que foi o discurso em torno deles, tratamentos tópicos que Lula sabe não solucionam os problemas da pobreza e exclusão social de uma parcela da população brasileira que o elegeu. Não foram os sucessos econômicos, pois embora os proclame, há muito o presidente vem admitindo que o que fez nos primeiros anos de administração foi aprender e preparar o país para o desenvolvimento, este sim uma solução definitiva para o desemprego, a fome, a insegurança, as graves questões sanitárias, etc. Enfim, tudo o que nos faz uma nação pobre arrotando grandezas, dentre elas a pretensão de ser um país em desenvolvimento. Mesmo ao enumerar os programas econômicos de sua gestão, Lula deixou claro que tudo está pronto. Mas pronto no papel. De realizado mesmo, só alguns remendos.

A vitória conquistada parecia colocar à frente do presidente reeleito uma encruzilhada: seguir o caminho socialista de esquerda, o que foi reclamado pela intelectualidade do PSOL que decidiu apoiar sua reeleição para exigir que não repetisse um governo que mereceu o apelido de neoliberal, xingação sempre dirigida à administração anterior; ou fazer um novo governo de conciliação para viabilizar o projeto de manter programas sociais e, paralelamente, colocar em prática projetos desenvolvimentistas, tirando-os do papel e colocando-os no mundo real.

Lula, ao convocar todas as forças políticas e da sociedade organizada e todos os componentes do novo Congresso Nacional para conversar e buscar soluções viáveis, vetou a radicalização. Na vitrine continuarão os programas tipo Fome Zero, mas tentará encontrar, com o auxílio até dos adversários desta campanha, meios para viabilizar a realização de obras e o desenvolvimento econômico efetivo, sem abrir mão de uma dura política fiscal. Isso significa buscar economizar sempre para pagar a dívida pública, um desiderato que não é prioridade para as forças esquerdistas. Nem mesmo para as forças econômicas internas que aguardam ansiosas uma política fiscal que faça sobrar recursos para os investimentos na indústria, no comércio e na agricultura, formando um mercado interno robusto. Está terminando o treino, pois, nos dois últimos meses deste governo, preparar o novo será a tarefa essencial. O segundo mandato, este sim, deverá ser o jogo.

A vitória de Roberto Requião no Paraná, novamente comparando com o futebol, foi inconteste. Mas por uma margem tão diminuta, microscópica, que se alguém pusesse em dúvida a legitimidade do sistema de reelegibilidade, qualquer desconfiança de gol em posição de impedimento daria a medida das responsabilidades de Requião no próximo mandato. Conclui-se que vitoriosa mesmo foi a democracia.

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