O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, exibe mais uma de suas virtudes: o pragmatismo. E o declarou com todas as letras, mesmo ressalvando estar cogitando de rumores, embora admitisse que o pagamento de US$ 112 milhões devidos pelo governo boliviano à estatal petrolífera brasileira pela encampação das refinarias de Cochabamba e Santa Cruz de la Sierra poderá ser feito na forma de gás natural.
Tudo vai depender, entrementes, da formalização da proposta e da subseqüente discussão que a matéria exige, tendo em vista os conflitos de interesse surgidos entre os governos do Brasil e da Bolívia, depois do decreto do presidente Evo Morales nacionalizando a produção e exportação de hidrocarbonetos.
Não é difícil concluir que o governo boliviano encontre dificuldades para despender uma quantia desse porte a fim de saldar o compromisso financeiro com a Petrobras, sem aprofundar ainda mais a precária condição socioeconômica de milhões de bolivianos.
Seria de esperar, diante do resoluto perfilhamento do mandatário boliviano aos ideais do socialismo do século XXI, apregoados pelo presidente da Venezuela, o ?revolucionário? Hugo Chávez, que este fosse capaz do gesto solidário de emprestar o dinheiro para dar seguimento à prosápia do companheiro de La Paz.
Apesar da fraternidade cantada em prosa e verso pelo compadrito de Caracas, que se refestela em meio à fortuna advinda das vendas de petróleo, até o momento nada transpirou.
Gabrielli disse aos jornalistas que gás também é dinheiro e ninguém em sã consciência tem motivos para duvidar. Da mesma forma que não se pode subestimar a realidade da estatal brasileira, ainda distante, por uma série de problemas, de alcançar a meta de produção de gás autóctone.
Assim sendo, aceitar o gás boliviano como indenização pelas usinas da Petrobras em território boliviano é assunto a ser escrutinado com o auxílio de poderosa lupa. A proposta do governo Morales não existe de fato, mas em se consolidando, deve ser objeto de um contrato bilateral que não ofereça a mais exígua margem para dubiedades de interpretação, a qualquer título.
Providências desse jaez, está provado, são indispensáveis, sobretudo nas relações comerciais com governos marcados pelo vezo ideológico. Todo cuidado é pouco…