Candidato à presidência da Câmara dos Deputados à revelia do PT e contra a vontade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o mineiro Virgílio Guimarães fez campanha em pleno Sambódromo, no camarote do governo do Estado, mas acabou enfrentando uma saia justa, diante dos ataques do secretário de Governo e Coordenação, Anthony Garotinho, ao chefe da Casa Civil, José Dirceu.
"Nosso apoio à candidatura de Virgílio é uma maneira de nos defendermos do que vem sendo feito pelo governo federal, através do senhor José Dirceu, prejudicando o Rio. Ele tem intrigado o presidente da República contra o Rio. Como ele é padrinho da candidatura do Greenhalgh (Luiz Eduardo Greenhalgh, candidato oficial do PT), não podemos apoiar. É na natureza do José Dirceu, da sua formação, não suportar conviver com pessoas que têm opiniões divergentes", atacou Garotinho, ao lado de Virgílio, na noite de segunda-feira.
Garotinho, presidente do PMDB fluminense, fez questão de usar um adesivo da campanha de Virgílio e levou nove deputados federais ao camarote, para manifestar apoio à candidatura avulsa do deputado petista. "O senhor José Dirceu espalha que eu sou inimigo número um do governo. Como posso ser inimigo número um, se votei no Lula três vezes? Tenho pontos de discordância, não oposição. A crítica mais contundente que faço é que eles colocaram um banqueiro para tomar conta do Banco Central e elevaram as taxas de juros que esfolam o povo e os empresários. Mas essa é uma crítica que existe dentro do próprio PT. Digo também que a direção do PT tem métodos stalinistas, de expulsar os que divergem. José Dirceu está plantando o que vai colher", afirmou Garotinho.
Virgílio Guimarães, por sua vez, preferiu não responder ao ser questionado se se sentia vítima da interferência de José Dirceu na disputa pela presidência da Câmara. Preferiu um discurso apaziguador.
"Minha candidatura não é contra ninguém, mas a favor do Poder Legislativo. Tenho um diálogo fácil com o Rio, com a governadora Rosinha, desde a reforma tributária", afirmou Virgílio. Numa referência a uma série de promessas feitas por Greenhalgh, Virgílio comparou: "Não faço campanha de aumento de salário, de construção de banheiro. Defendo o fortalecimento do Legislativo, das bancadas setoriais. Estou praticando o que meu partido prega." O deputado mineiro disse não ver motivos para ser punido pelo PT. "Não há punição sem crime", afirmou.
Explicando que estava no Sambódromo para "percorrer os camarotes oficiais", Virgílio visitou o camarote da prefeitura, embora o prefeito Cesar Maia (PFL) não estivesse presente, e foi também ao camarote Rio, Samba e Carnaval, com o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia. No camarote do governo estadual, o parlamentar esteve com o ministro da Cultura, Gilberto Gil, e com o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, que, como Garotinho, defende a saída dos peemedebistas do governo Lula.
Durante o desfile da Portela, Virgílio conseguiu um colete de serviço e desceu até a pista da Marquês de Sapucaí, de onde assistiu à apresentação da escola azul-e-branca.
Virgílio só não foi ao camarote da Petrobras, o quartel-general dos petistas na Marquês de Sapucaí. Presidente da estatal do petróleo, o petista José Eduardo Dutra recebeu os ministros Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação de Governo) e Nilmário Miranda (Secretaria de Direitos Humanos) nos dois dias de desfile. Estiveram por lá também o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda (PT), e os ministros não-petistas Walfrido Mares Guia e Gilberto Gil.
Gushiken não quis falar sobre a sucessão na Câmara dos Deputados. "Este não é um assunto do Executivo. Tudo indica que vai dar Greenhalgh, e que é a opção mais adequada. Penso que o presidente do PT (José Genoino) deve estar tomando medidas de conversa com Virgílio, em virtude de eventuais transgressões que possa haver. Mas o processo ainda não terminou, vamos esperar que caminhe no bom sentido" disse Gushiken.
O mineiro Nilmário Miranda disse que votaria em Virgílio Guimarães se estivesse na bancada petista, quando foi escolhido o candidato do PT, mas acataria a decisão da maioria do partido por Greenhalgh. O ministro afirmou não ver motivos para punição de Virgílio por causa da candidatura avulsa.