Recife – O líder do PSDB no Senado, Artur Virgílio, considerou a cassação do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu (PT), como "a cassação moral do governo Lula, afinal de contas trata-se do grande organizador do partido, do homem que procurou estruturar a administração do governo Lula", afirmou ele hoje (1), no Recife, onde prestigiou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que à noite receberia o título de cidadão pernambucano na Assembléia Legislativa e participou de reunião com prefeitos e deputados pernambucanos do partido.
"Não adianta o presidente Lula dizer que não tem nada a ver com a história", frisou, ao comentar que ontem "e até tardiamente", o presidente se mexeu para salvar José Dirceu, "mas sem ser bravo o suficiente para colocar o rosto do lado de fora". Para o líder tucano, a cassação de Dirceu foi necessária. "A sociedade exigia e havia respaldo jurídico", avaliou. "Foi politicamente relevante porque sem ela (a cassação) não havia como se pensar em cassação de mais ninguém". Ele argumentou que sem a figura do suposto corruptor, não poderia haver suposto corrompido.
Declaração de guerra – Virgílio espera que a cassação do ex-deputado não seja a declaração de guerra do governo Lula contra a oposição. Garantiu, porém, que não importa o que o adversário vá fazer. "Importa o sentimento do cumprimento do dever que procuramos ter", explicou, indagando: "vamos fingir que não houve ‘mensalão’, dinheiro na cueca, confirmação das denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB, cassado), fingir que não houve delito? Queriam um passe para a impunidade?"
O senador deu entrevista à imprensa no Palácio do Campo das Princesas, antes de almoço com o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) com a comitiva tucana comandada por Fernando Henrique Cardoso. Ele destacou a bravura de Dirceu, assim como a sua ampla oportunidade de defesa, mas revelou o temor de que a conjugação da crise moral e da crise política com a retração econômica "drástica" leve o presidente Lula a ouvir pessoas que queiram endereçá-lo para uma aventura econômica. Ele lembrou que o presidente andou elogiando o presidente da Argentina, Nestor Kirchner – "que não anda fazendo boas coisas na economia – e o presidente venezuelano Hugo Chávez – "que vive explorando petróleo de forma horrorosamente incompetente e desastrosa" – , além de ter elogiado ainda o "cocaleiro do Peru", referindo-se ao presidente Alejandro Toledo.