Por mais esforço que tenham feito o governador e autoridades da segurança pública no Estado de São Paulo foi impossível atenuar a rudeza do golpe sofrido pela população da capital e interior, desde a última quinta-feira praticamente à mercê do terror desencadeado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), a quadrilha que supervisiona o crime organizado em várias regiões do País. O nível de organização do bando é tal que os ataques terroristas contra delegacias, ônibus, estações do metrô, agências bancárias e repartições do Poder Judiciário, além dos atentados que tiraram a vida de pelo menos 80 pessoas entre agentes policiais, familiares e criminosos, se alastraram para penitenciárias e cadeias públicas do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná, Pernambuco e Alagoas, nas quais centenas de pessoas foram feitas reféns pelos condenados e houve também mortes entre os amotinados.
Pela primeira vez se registrou um confronto armado dessa envergadura entre policiais e meliantes, tendo a virulência dos ataques e a quantidade de mortes de agentes da lei e criminosos suplantado os números de 2001, quando ocorreu também um conflito desencadeado pelos chefes do PCC desde as prisões de segurança máxima onde cumpriam penas. O fato se repetiu agora, na avaliação do governador Cláudio Lembo, em face da transferência de 765 elementos de alta periculosidade para a penitenciária de Presidente Venceslau, na região oeste de São Paulo, considerada a mais segura do estado, onde já esteve Fernandinho Beira-Mar, um dos mais temidos chefes do banditismo atuante no Brasil.
O governador admitiu possuir informações que a represália era iminente. A transferência dos presos foi efetuada na quinta-feira, e ato contínuo pipocaram as execuções de policiais, rebeliões em presídios e a queima de ônibus e instalações públicas e privadas, num autêntico rastro de sangue e violência. Ocorre que nenhum policial ouvido pela imprensa declarou ter recebido ordens para entrar em prontidão e sequer um esquema mínimo de emergência foi proposto para as polícias Militar e Civil. Ora, esta é uma omissão injustificável do governo paulista, responsável direto pela segurança de milhões de pessoas, que se teve conhecimento prévio dos ataques terroristas do PCC e não tomou as precauções devidas, deverá agora explicar-se às famílias enlutadas pela perda dos inocentes alvejados pelas balas assassinas dos beleguins do crime organizado.
Até quando a cidadania indefesa suportará a leniência de governantes que se limitam a repetir discursos surrados e demagógicos, recheados de frases feitas e argumentos falaciosos de que as forças da ordem estão no controle da situação e, sob nenhuma hipótese se permitirá ao crime agir ao arrepio da lei? Ora, o sangrento espetáculo testemunhado pela população de uma das maiores e mais importantes cidades do mundo é uma dolorosa comprovação da falência gradativa dos governos e seus agentes em resolver questões de natureza social e diminuir o escabroso desequilíbrio entre as diferentes camadas da população. O resultado trágico é este caldo de cultura que, Deus tenha piedade de nós, poderá desencadear uma verdadeira guerra fratricida.