Vinho da ira

Uma operação militar não justificada por interesse estratégico e condenada com veemência pelas normas civilizatórias de respeito à vida de seres humanos, sobretudo de crianças, a chamada matança de Qana, colocou o governo de Israel em péssima situação em todo o mundo e, particularmente, na contramão da solidariedade de governos que até então se esmeravam em hipotecar compreensão às ações militares no sul do Líbano.

A secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, voltou a Washington sem lograr êxito na missão de apressar o cessar-fogo, suspendendo a visita programada a Beirute ante a reação imediata do governo local. A própria ONU cancelou as reuniões agendadas para discutir a estratégia do fim das hostilidades, diante do recrudescimento bélico ordenado pelo Gabinete de Segurança de Israel, chefiado pessoalmente pelo primeiro-ministro Ehud Olmert.

Fontes oficiais do governo afirmaram que as operações militares terrestres vão prosseguir intensamente numa área de seis quilômetros no sul do Líbano, com o objetivo de destruir os focos da milícia xiita Hezbollah e dos quais têm sido disparados os mísseis contra cidades e vilarejos do norte de Israel. O propósito de Israel é empurrar o Hezbollah para além do Rio Litani, cerca de 20 quilômetros da fronteira, liberando essa parte do território para a entrada da força internacional de paz. Um militar graduado de Israel comentou que as operações podem se estender por duas semanas.

A informação procede, pois em outro contexto Ehud Olmert afirmou que não haverá cessar-fogo nas próximas horas e nem nos próximos dias, num desafio insolente a todas as ponderações oriundas da comunidade internacional. Nas primeiras horas de ontem, aviões militares de Israel dispararam mísseis contra a cidade de Hermel, no Vale do Bekaa, a 120 quilômetros da fronteira. O presidente sírio, Bachar el Assad, ordenou a mobilização do exército para a entrada iminente no conflito.

O vinho de Canaã da Galiléia, primeiro milagre de Jesus, foi transformado em sangue de crianças massacradas e ofertado aos modernos senhores da guerra.

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