A Unidos de Vila Isabel homenageará em seu desfile deste ano o sambista e compositor Noel Rosa, que completaria 100 anos em dezembro. “Noel paira sobre a Vila”, diz o presidente da agremiação, Wilson Vieira Alves, para explicar a escolha do enredo. Criado no bairro carioca, o autor de “Com que roupa” é lembrando em cada esquina, como a estátua do poeta em uma mesa de botequim, na Praça Maracanã. As partituras de “Feitiço da Vila”, composição de Noel Rosa e Vadico, ilustra uma das calçadas do bairro.
Com o enredo “Noel: a presença do poeta na Vila”, do carnavalesco Alex de Souza, a azul e branca busca seu terceiro título de campeã do Grupo Especial do carnaval carioca. A escola vai contar o legado musical e a curta vida do artista, que morreu aos 26 anos, em 31 alas, formadas por 3,5 mil componentes com oito carros alegóricos. Cada setor representará uma fase da vida de Noel, em ordem cronológica. Destaques para sua descoberta como sambista, a influência do morro e da boemia, e para as participações no teatro de revista, rádio e cinema. Mas a apresentação da escola não terá nada de tristeza: “Não vamos tratar da morte, o desfile terá o clima de sua vida alegre, da boemia”, afirma Alves.
A inovação este ano ficará por conta da bateria Vila Isabel, que terá a estreia de mestre Átila no comando. O presidente da escola explica que, por ser tradicional, a bateria da azul e branca tinha uma postura menos ousada, e que mestre Átila, que é da vanguarda do samba, trouxe um “suingue diferente”, com paradinhas e conversões mais empolgantes. A inspiração dos componentes é a dançarina e rainha de bateria Gracyanne Barbosa.
O samba enredo é de autoria do sambista e presidente de honra, Martinho da Vila, e será interpretado por Tinga. A escola, que não divulgou os custos de seu desfile, entra na Marquês de Sapucaí no segundo dia dos desfiles do Grupo Especial, e será a quinta a se apresentar, por volta da 1h20. No ano passado, a Vila Isabel falou sobre o centenário do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e ficou com a quarta colocação.
Confira a letra da homenagem da Vila ao compositor:
Noel: a presença do poeta da Vila
Se um dia na orgia me chamassem
Com saudades perguntassem
Por onde anda Noel?
Com toda a minha fé responderia
Vaga na noite e no dia
Vive na terra e no céu
Seus sambas muito curti
Com a cabeça ao léu
Sua presença senti
No ar de Vila Isabel
Com o sedutor não bebi
Nem fui com ele a bordel
Mas sei que está presente
Com a gente neste laurel
Veio ao planeta com os auspícios de um cometa
Naquele ano da Revolta da Chibata
A sua vida foi de notas musicais
Seus lindos sambas animavam carnavais
Brincava em blocos com boêmios e mulatas
Subia morros sem preconceitos sociais
Foi um grande chororô
Quando o gênio descansou
Todo o samba lamentou Ô ô ô…
Que enorme dissabor
Foi-se o nosso professor
A Lindaura soluçou
E a Dama do Cabaré não dançou
Fez a passagem pro espaço sideral
Mas está vivo neste nosso carnaval
Também presentes Cartola
Aracy e os Tangarás
Lamartine, Ismael, e outros mais
E a fantasia que se usa
Pra sambar com o menestrel
Tem a energia da nossa Vila Isabel
Tem a energia da nossa Vila Isabel