O candidato a vice na chapa do tucano Geraldo Alckmin, senador José Jorge (PFL-PE), ministro de Minas e Energia na época do apagão de 2001, reagiu ontem às críticas feitas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à "gerência" do setor elétrico durante seu governo. "Quando eu assumi o ministério, a crise já estava instalada", explicou o senador, que teve de administrar o apagão dois meses depois de se sentar na cadeira de ministro. Antes dele, o titular do ministério era o senador Rodolfo Tourinho (PFL-BA).
José Jorge argumenta, no entanto, que também não vê na carta de FHC nada que "desabone a conduta administrativa" de seus antecessores. A seu ver, a frase do ex-presidente foi dúbia. Quando tratou do "fracasso" na privatização do setor elétrico, "que não dispõe de um modelo claro e competente, indutor de parcerias com o setor privado", FHC também observou que "é só ver as estatísticas dos investimentos para entender porque vira-e-mexe fala-se em apagão". E emendou em seguida a frase que o senador julga não ter nexo "Não o de 2001, conseqüência da má gerência e da falta das águas, mas da falta de investimentos para geração nova de energia.
Se a "má gerência" apontada por FHC foi ou não dirigida a seu antecessor imediato, o diagnóstico de José Jorge é outro. "Na realidade, houve uma transição de modelo, do público para o misto, público e privado, durante a qual praticamente não se investiu no setor elétrico. Àquela época, a situação foi agravada pela falta de chuva, o que pode voltar a ocorrer agora. Basta não chover no Sul e poderemos ter um novo apagão", prevê o senador.
Independentemente da polêmica, José Jorge diz que gostou da carta de FHC. "O mais importante não é a autocrítica que ele faz em relação ao passado, mas a crítica feita ao tempo presente", destaca. "A situação hoje é de uma série de escândalos não explicados que ocorreu neste governo, e da apatia da sociedade, que parece conviver bem com tudo isso, sem demonstrar indignação." José Jorge entende que a manifestação de FHC sugere uma reflexão maior sobre o quadro político atual e que ela foi feita no momento certo: a três semanas da eleição, quando o eleitor realmente começa a decidir o voto.