O vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, tem programada uma visita ao Brasil esta semana, provavelmente na quinta-feira. Na pauta, temas delicados como as dificuldades financeiras por que passa a estatal petrolífera de seu país, a Yacimientos Petroliferos Fiscales de Bolívia (YPFB). Linera é conhecido por seu perfil moderado, diferente dos rompantes radicais do presidente, Evo Morales.
Depois de nacionalizar suas reservas de gás com estardalhaço, com direito a colocar tropas de seu exército em frente às instalações da Petrobras, o governo boliviano se viu forçado a anunciar, em meados deste mês, a suspensão temporária de seu plano de ocupar totalmente a cadeia produtiva do petróleo, por falta de recursos financeiros. Na tentativa de superar esse problema, Morales negocia a liberação de US$ 180 milhões do Banco Central boliviano.
Entre os negociadores brasileiros, comenta-se que, além da falta de dinheiro, a YPFB carece de recursos humanos qualificados para operar o setor. Esse será um ingrediente de peso na delicada costura em torno da questão do preço do gás, que segue em impasse. Evo Morales tenta de todas as formas levar a discussão para o campo político, onde acredita ter mais chances de obter concessões.
O governo brasileiro tenta manter a discussão sobre o preço do gás no campo técnico e joga as negociações para a Petrobras, que se recusa a negociar qualquer reajuste. Porém, numa tática de "morde e assopra", o Brasil oferece à Bolívia parceria em outras áreas. Há, por exemplo, um projeto de rodovia ligando a capital La Paz à província de Pando, no Norte da Bolívia. Existe também a possibilidade de o BNDES financiar a exportação de bens produzidos no Brasil para lá.
Missões de técnicos brasileiros já foram enviadas a La Paz, para verificar outras possibilidades de cooperação. Quando se encontrou com Evo Morales no início de julho, em Caracas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro que não queria a contaminação dessas discussões pela questão do preço do gás.