A carona que o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), pegou no avião da Presidência da República e a conversa reservada que teve no sábado, em Brasília, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dividiram a oposição. Nos bastidores, muitos senadores apontaram a iniciativa de Lula de convidar Virgílio e outros senadores para acompanhá-lo de Três Lagoas (MS) até a capital federal, após o velório do senador Ramez Tebet, como um gesto para "neutralizar e dividir" a oposição. "Na política, há simbolismos", afirmou o líder do PFL, senador José Agripino (RN), preferindo considerar que foi um "episódio isolado". Agripino disse que, se estivesse no grupo, não aceitaria a oferta de carona.
Muitos senadores suspeitam que o convite de Lula teve o dedo do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), um dos principais interlocutores do presidente da República. Empenhado em ajudar o presidente a montar um governo de coalizão, Renan é favorável a uma aproximação com a oposição, sobretudo no Senado, onde o governo não tem maioria para aprovar sozinho propostas de interesse do País.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) não escondeu sua insatisfação com a atitude de seu líder. No entanto, para não criar polêmica nem alimentar a divisão da bancada, preferiu tratar o convite "dentro das circunstâncias que aconteceu e como um fato isolado" que não significa aproximação do PSDB com o governo. Mesmo assim sugeriu ao próprio Arthur Virgílio que faça uma reunião da bancada nesta semana para discutir, entre outros assuntos, a relação da oposição com o governo.
Oposição
Apesar da carona no Boeing presidencial, conhecido como Aerolula Virgílio negou veementemente que o PSDB vá participar de um governo de coalizão. "Nem pensar. Somos oposição e a eleição nos deu esse papel", enfatizou. Segundo ele, o presidente precisa ainda dizer quais são suas propostas, mesmo porque, na conversa de sábado, no avião presidencial, ele foi "muito vago e falou muito em destravar o desenvolvimento.
"Eu não tive clareza do que ele quer", resumiu o líder. Virgílio disse entender que seu partido não se furtará a discutir uma agenda nacional, a ser apresentada por Lula. Hoje, ele conversou por telefone com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que se mostrou curioso em saber todo o teor da conversa do líder com Lula. Quanto à proposta de fazer um conselho de ex-presidentes da República, FHC estaria disposto a aceitar, mas deixou claro que o próprio Lula já falou desse assunto em outra ocasião e a idéia não avançou. "Parece que agora, ele (Lula) quer tocar isso", comentou Virgílio, ao que FHC respondeu com cautela: "Vamos ver.
Álvaro Dias acha que a oposição precisa assumir seu papel e que uma agenda para o País deve ser discutida ponto a ponto no Congresso. "Nós debatemos uma agenda de propostas na campanha inteira. Agora o presidente precisa pôr sua base parlamentar para que possamos votar no Congresso aquilo que é de interesse coletivo", afirmou.
Durante a viagem até Brasília, Lula reafirmou sua decisão de fazer um plano de crescimento para 20 ou 30 anos e, segundo o senador Valdir Raupp (PMDB-RO), prometeu encontrar um caminho para solucionar as dívidas dos Estados, motivo de pressão por parte dos governadores eleitos em outubro.
