Cerca de mil agricultores ligados à Via Campesina ocuparam hoje pela manhã o campo experimental de sementes da multinacional Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste, a 520 quilômetros de Curitiba. Eles pedem a interdição, o embargo e a autuação da empresa por desenvolver atividades de pesquisas com sementes geneticamente modificadas numa área de entorno do Parque Nacional do Iguaçu, o que é proibido por lei.
A ação dos manifestantes, a maioria ligada aos Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), começou por volta das 11 horas. Com carros, caminhonetes, motocicletas e caminhões, eles avançaram sobre o campo experimental da empresa, sem encontrar resistência. Os funcionários foram obrigados a ir para casa. Apenas uma equipe de pesquisadores permaneceu no local, para resguardar os laboratórios da empresa.
Os agricultores ocuparam o prédio da administração e se concentraram no portão principal, para controlar a entrada e saída das pessoas. A imprensa não teve acesso ao interior da empresa. Nilda Ramos Barbosa, uma das líderes do movimento, informou que a ação foi pacífica e é por tempo indeterminado. "A empresa está funcionando irregularmente por desenvolver atividades de transgenia numa área de preservação ambiental. A Via Campesina está pedindo a interdição da empresa pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)", explicou Nilda.
O campo experimental, de 40 hectares, fica dentro da faixa de 10 quilômetros da área de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçu, declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco. No dia 8 de março, o Ibama fez uma vistoria no campo experimental e constatou a existência de 12 hectares de cultivo de soja transgênica.
O plantio foi interditado pelo órgão ambiental, que está fiscalizando esse tipo de plantio em torno do Parque Nacional do Iguaçu. De acordo com o artigo 11 da Lei 10.814/2003, que estabelece normas para o plantio, transporte e comercialização de soja geneticamente modificada, é proibido o plantio de sementes não-convencionais nas áreas de conservação e respectivas zonas de amortecimento.
A Via Campesina quer o fim das atividades do campo experimental e a punição criminal, civil e administrativa da multinacional. As lideranças da Via Campesina querem uma resposta urgente do governo federal sobre o assunto sob ameaça de radicalizar o movimento, como aconteceu no Rio Grande do Sul, onde trabalhadoras destruíram, na semana passada, um centro de pesquisa florestal da Aracruz Celulose S/A, causando prejuízos de milhões de reais.
"Nós não queremos destruir a plantação e nem os laboratórios. Isso só vai acontecer em último caso", alertou Nilda.