O apagão aéreo até aqui vinha apresentando mais bodes expiatórios que culpados. As vítimas, os usuários, não sabiam bem se deviam culpar as companhias aéreas, seus funcionários de balcão, os comandantes das aeronaves, os controladores de vôo dos aeroportos onde ficavam retidos ou outros de cidades longínquas, principalmente de Brasília, o ministro da Defesa, o comandante da Aeronáutica, ou secretos boicotadores. Pouca gente havia se dado conta que sejam uns ou outros os responsáveis, ou alguns deles ou todo o conjunto, a responsabilidade é do governo federal. É ele que comanda o setor, seja pelos órgãos federais que regulam o tráfego aéreo, seja pela subordinação dos controladores de vôo à Aeronáutica e esta ao ministro civil da Defesa.
Agora a coisa muda de figura, pois o governo da União acabou vestindo a carapuça. A oposição, formada pelo PSDB, PPS e PFL, havia requerido a formação de uma CPI para investigar o apagão aéreo e a denúncia do Tribunal de Contas da União de graves irregularidades em obras realizadas ou por realizar em vários aeroportos do País. Na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, as forças situacionistas, em especial os petistas, tomaram posição radical contra a CPI. O argumento jurídico era que uma comissão parlamentar só pode ser formada com um objetivo determinado, o que é verdade, mas não existe a convicção de que estes problemas no sistema de transportes aéreos sejam objetivo determinado. Determinado é, embora de enorme amplitude.
A discussão da matéria na CCJ chegou às raias da baixaria. A oposição insistindo, os situacionistas negando, até que o presidente da comissão gritou que ali não era lugar para histéricos. Enquanto isso, pende no Supremo Tribunal Federal mandado de segurança no qual os oposicionistas querem o pode da Justiça para a montagem da CPI e os situacionistas almejam que ela seja proibida por não versar sobre ?fato determinado?. Enquanto eram carimbados, aos berros, de histéricos, os oposicionistas faziam coro, batendo nas mesas, acusando os situacionistas de ditadores. No episódio das negociatas apontadas pelo TCU, houve quem o defendesse dizendo que muitas das irregularidades apontadas já vêm de governos anteriores. Para o povo, que importa? O objetivo não deve ser atacar o governo Lula e sim o governo. E atacar de frente o problema do apagão aéreo que se eterniza, seja em feriadões, seja em ocasiões em que seria de se esperar céus de brigadeiro.
Hoje essas crises no tráfego aéreo acontecem pelas mais variadas razões e não raro por mais de uma ao mesmo tempo. Ora é o esgotamento dos controladores aéreos, em número insuficiente, ganhando pouco, uns militares e outros civis, mas sujeitos ao comando militar, e não poucos sujeitando-se à estafa num segundo emprego, para a manutenção própria e de suas famílias. Há casos como o Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, onde de repente se descobriu que ele está saturado, sendo o mais movimentado do País. E que sua pista principal tem de ser interditada sempre que cai uma chuva mais forte, pois o acúmulo de água na pista põe em risco as aterrissagens e decolagens. Ou o que aconteceu esta semana, quando sistemas de computação pararam inexplicavelmente e em Brasília houve, por horas, a falta de energia elétrica indispensável para o funcionamento do sistema.
A verdade verdadeira é que as nossas estradas do ar estão tão ruins e mal-orientadas quanto as nossas vias terrestres. E a culpa é do governo, deste e certamente também dos anteriores. Mas providências urgentes e competentes é este governo que tem de tomar.