Hoje é véspera de Natal, dia que antecedeu ao nascimento de Jesus Cristo e que, por uma grande parte da humanidade, especialmente no Ocidente, é comemorado com festas públicas e familiares. Os países ocidentais são de povos em sua grande maioria cristãos de várias igrejas, mas sem nenhuma diferença essencial em termos de doutrina e algumas, pouco significativas, de ritos.
Há, entretanto, a tendência de esquecer que se trata da comemoração do nascimento de Jesus Cristo, o Salvador, um jovem judeu que surgiu como um desafio para o Império Romano, porque pregava o bem e a resistência pacífica. Certo que muitos historiadores e estudiosos entenderão que a pregação de Cristo nada tinha de resistência pacífica ao domínio romano. Mas assim se deu, no mínimo porque Ele pregava o monoteísmo contra um império onde havia pluralidade de divindades.
Por isso, Jesus Cristo foi crucificado, um suplício até a morte que era imposto a criminosos. Dois ladrões foram, com ele, lado a lado, também executados.
Hoje, o sentido religioso da data fica em segundo plano para dar lugar à festa pública e familiar. Principalmente a familiar, pois nos lares cristãos há o simbolismo do presépio, da árvore de Natal, os doces e guloseimas e são distribuídos presentes. O que acontece no mundo, inclusive o cristão, por pior que seja, é incapaz de empanar o brilho da festa. O sorriso de alegria de uma criança que recebe o seu presente não tem preço. A nada se compara, nem à mais bela obra de arte.
Mas sejamos cristãos no sentido de sensíveis aos males do próximo, para que o sacrifício de Jesus não tenha sido em vão. Ele não invalida a festa, mas temos de considerar que ela atualmente não acontece em um número assustador de lares. Há fome e miséria no mundo e as crianças são suas primeiras e sofridas vítimas. Há miséria e fome também no nosso Brasil.
O mundo que Cristo desejava seria certamente mais justo na distribuição de bens, de igualdade social e equilíbrio econômico. Ele multiplicou os pães para dar de comer a quem tinha fome. Ele curou doentes. Ele abençoou os pobres de espírito, apontando-lhes o Reino dos Céus.
O mundo que vivemos não segue o seu exemplo. Como escreveu Voltaire em Candide, homens de turbante matam homens sem turbante; e homens sem turbante matam homens com turbante. Há carnificina em quase todo o mundo, inclusive no cristão. E é revoltante ver que, por detrás dessa carnificina que se dá com dominações de povos sobre povos e guerras sangrentas, há argumentos religiosos como justificativa. São judeus contra muçulmanos e estes contra aqueles e contra cristãos que montaram, na América do Norte, um novo império de sangue e destruição.
Este mundo não é cristão, como teria sonhado Jesus. Não é o mundo pelo qual foi sacrificado. Não seguem, nem mesmo entre os cristãos, os seus ensinamentos. Finjamos, pelo menos na noite de hoje, a de véspera, e amanhã, dia do natal de Jesus Cristo, que estamos apenas reverenciando o menino que nasceu numa manjedoura para salvar a humanidade. E que tudo o que vale é a festa em família, os presentes e a retribuição dos sorrisos das crianças. E devolvamos à data o seu sentido religioso, infelizmente cada dia mais esquecido.
Senão, veremos no Natal oportunidade para lembrar que o mundo hodierno está fazendo tudo para destruir o cristianismo. E não festejaremos. Iremos chorar.