A Venezuela continua na berlinda e o presidente reeleito Hugo Chávez ainda fatura a condição de chefe de governo mais noticiado no momento, dir-se-ia, com alguma vantagem sobre o odiado inimigo George W. Bush, hoje combalido pelo desmoralizante passivo da intervenção militar norte-americana no Iraque.
Entre os grandes produtores de petróleo do mundo e detentora de reservas monetárias advindas dessa fonte natural de energia, a Venezuela pretende torrar parte desses recursos no pagamento de indenizações às corporações abrangidas pelo programa de estatização anunciado durante a terceira posse presidencial.
Chávez pediu ao Congresso a feitura de ?leis revolucionárias?, por exemplo, redefinindo o conceito de propriedade, para levar a cabo o desiderato de nacionalizar por completo os setores de petróleo, telecomunicações e eletricidade. A fim de subsidiar o custo dessa temerosa empreitada, o governo dispõe de reservas da ordem de US$ 36 bilhões, além de um fundo para o desenvolvimento de projetos sociais, criado no ano passado, com dotação inicial de US$ 18 bilhões.
O problema maior do presidente Chávez é que, até agora, a maior parcela da população venezuelana continua vivendo na estreita faixa entre a pobreza e a miséria absoluta, sem que os volumosos recursos captados da indústria petrolífera respaldem de forma direta os projetos sociais acalentados pelo governo.
Talvez a ansiada realidade passe a ocorrer a partir do momento em que o Palácio Miraflores, sede do governo, reduza a seu talante os serviços essenciais que tenciona, em alguns casos, reestatizar.
Cálculos ligeiros feitos pelo deputado Ricardo Sanguino, presidente do comitê financeiro da Assembléia Nacional, mostram que o conjunto de indenizações dos sistemas a serem nacionalizados representa apenas ?uma fração? das reservas monetárias do país.
Assim, se arrogam os operadores do socialismo bolivariano a proclamar que há dinheiro de sobra para acorrentar a ?hidra capitalista? que sufocou a economia local durante tantas décadas. A vertigem de Chávez pode ter brotado do crescimento econômico de 10,3% em 2006, o maior da América Latina. A conferir.
