Abstraído o tom emocional e as referências a aspectos da intimidade pessoal e familiar expostos na mídia, não porque esta cultive o prazer mórbido de fazer tabula rasa das fraquezas alheias, a defesa apresentada pelo senador Renan Calheiros, presidente da chamada Câmara Alta, mesmo com a exibição de documentos, para merecer o certificado de absoluta confiança da sociedade deverá passar não apenas pelo crivo do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da instituição, mas de todas quantas forem as instâncias necessárias para chegar à inteira constatação da verdade.
Logo após o discurso de Renan, que preferiu falar da cadeira de presidente e não da tribuna, o advogado da jornalista Mônica Veloso, mãe da filha de três anos do senador, contestou vários tópicos da versão apresentada pelo político alagoano, negando que o suposto ?pagador? das mensalidades – Cláudio Gontijo – fosse pessoa das relações de amizade da jornalista.
Informou também desconhecer que os R$ 100 mil aludidos pelo senador Renan Calheiros tenham sido usados na formação de um fundo garantidor da futura educação da criança. Para o advogado Pedro Calmon Filho, a importância foi dada para cobrir a defasagem do valor da pensão alimentícia e os pagamentos em atraso.
Foram esses e outros pormenores não esclarecidos com suficiência no discurso de Renan que motivaram senadores de vários partidos, mesmo tendo hipotecado solidariedade pessoal ante o drama vivido pelo colega, a concordar com a necessidade de aprofundar investigações sobre o lado financeiro da questão.
O senador Romeu Tuma, presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, reconheceu que o relacionamento de Renan e Mônica é assunto de foro íntimo e está sendo dirimido pela Justiça.
Resta agora, porém, espantar a nebulosidade criada a partir dos indícios de que o dinheiro repassado à Mônica tenha vindo da Mendes Junior, pelas mãos do lobista Cláudio Gontijo. E, na mesma balada, lançar luz sobre os virtuais liames entre Renan e Zuleido Veras, o criador do propinoduto da Gautama.
Renan invoca a presunção da inocência e sequer admite conversar sobre o afastamento do cargo enquanto corre a investigação. O prejuízo maior é do Senado.