O derrotado Paulo Maluf exclamou, já não mais podendo esconder-se do resultado inexorável das urnas, que houve uma ventania petista em todo o País. E essa ventania, segundo o candidato Lula da Silva, representa a mais expressiva vitória de um partido de esquerda em todo o continente. Depois da tempestade ? diz o velho ditado -, vem a bonança. Torcemos para que não seja apenas para os eleitos.

Na vitória ou na derrota, cada um tem uma explicação para o que aconteceu. Aqui, o filho do apresentador Ratinho vai à Assembléia Legislativa sem muito esforço. Foi carregado pelo pai e, aos 21 anos, compara o presente de seu début parlamentar sem experiência alguma a quem ganha uma Ferrari. Para usufruir do presente, pelo menos tem que aprender a pilotar a máquina. O ex-presidente Fernando Collor de Mello não chegou ao segundo turno para o governo de Alagoas e seu adversário gaba-se de tê-lo vencido com os votos da rejeição do próprio ex-presidente. Na Bahia de todos os santos, Antônio Carlos Magalhães renasce das cinzas, refazendo-se membro do Senado da República, de onde saiu envergonhado, elegendo de quebra o governador de seu Estado e enchendo de votos um neto de 23 anos. Outro ex-presidente do Senado, Jader Barbalho, mesmo sob suspeita grave de ter embolsado dinheiro da Sudam, também volta a ter imunidade parlamentar. Vai discursar na Câmara Federal.

Mas a tormenta vermelha e petista imaginada por Maluf não tem a lógica dos tornados. Como explicar o fenômeno Enéas, do Prona, que carregou na avalanche paulista de seus 1,5 milhão de votos outros cinco deputados, todos até aqui rigorosamente sem expressão alguma? Isso destrói a tese do discurso articulado e da proposta bem formulada. O Dr. Enéas bem podia simbolizar o antitempo da TV, palanque decisivo para muita gente agarrada à mídia e desgrudada dos eleitores. Além dele, também do Prona e sem-TV, Havanir Tavares de Almeida Nimts acabou sendo a mais votada na história da Assembléia Legislativa de SP. É justo?

Ora, o eleitor pode tudo. O próprio Enéas responde: o conceito de justo em política é extremamente estranho. “É justo, por exemplo ? a pergunta é dele ? que um indivíduo que nunca fez nada tenha chance apenas porque é um baderneiro, grevista ou por que é líder sindical? Será que é justo? É um conceito muito discutível. Eu prefiro dizer que, em tendo sido aceita a minha postulação por um número gigantesco de eleitores, é justo que indivíduos preparados estejam comigo para que a minha voz possa ecoar.” Mesmo que com menos de 300 votos…

Antigos caciques derrotados, como Leonel Brizola e Orestes Quércia, colocam a mão na cabeça e se perguntam: onde está o erro? O governador Jaime Lerner, um dia imbatível nas urnas, deseja que o seu sucessor, que ainda não sabe quem será, faça melhor que ele fez. Em Brasília, Fernando Henrique Cardoso também diz coisa igual. E, qual estadista acima de pequenas querelas, louva a democracia.

“Nenhum conjunto de pessoas comete o erro de escolher o menos preparado para representá-lo”, sentenciou o candidato José Serra antes de votar, no domingo. Será? Para ver o estrago do vento é melhor esperar que a ventania passe.

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