A entrada da Venezuela no Mercosul é um lance muito arriscado da política externa brasileira, advertiram ontem especialistas em América Latina baseados na Europa. O bloco sul-americano que, segundo eles, vem enfrentando nos últimos anos uma crise interna deverá ser palco de maior tensão política com a inclusão do tom ideológico-nacionalista e anti-Estados Unidos do presidente venezuelano, Hugo Chávez
No exterior, o Mercosul corre o risco de perder ainda mais credibilidade, dificultando as negociações de acordos comerciais com a União Européia e os Estados Unidos, por exemplo, que estão paralisadas. Além disso, com os bolsos cheios de petrodólares, Chávez poderá alterar o equilíbrio político dentro do bloco, reduzindo a influência de Brasília
"Há uma aposta brasileira na tese de que, com a entrada da Venezuela no Mercosul, Chávez poderá ser neutralizado e a integração na região será intensificada", disse, à Agência Estado, Alfredo Valadão, chefe da cadeira de Mercosul do Instituto de Estudos Políticos de Paris. "Mas é uma aposta arriscada, pois Chávez, com seus petrodólares, é difícil de ser controlado e isso criará tensões inevitáveis que poderão enfraquecer ainda mais o Mercosul no exterior.
Para Francisco Panizza, professor da universidade britânica London School of Economics, a politização do Mercosul é preocupante. "O projeto do Mercosul, ao ser criado, é que buscaria um regionalismo aberto, oposto ao tom nacionalista e antiglobalização defendido por Chávez", disse Panizza. "Eu não tenho certeza se esse projeto poderá ser continuado a partir de agora.