As vendas dos supermercados despencaram no fim do ano e surpreenderam o setor, que esperava uma recuperação dos resultados negativos dos últimos cinco meses. O faturamento das empresas em dezembro registrou uma queda real, descontada a inflação pelo IPCA/IBGE, de 3,84% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo levantamento da Associação Brasileira dos Supermercados (Abras). Foi a maior queda no ano. A projeção para o mês passado, o melhor do ano para o varejo, era de um crescimento em torno de 4% nas vendas. No acumulado de 2005 os supermercados cresceram apenas 0,66%, quase um empate com o resultado de 2004. O peso dos aumentos das tarifas públicas no bolso do consumidor, os juros altos e os níveis elevados de desemprego, além do endividamento com o crédito consignado foram apontados pelo presidente da Abras, João Carlos de Oliveira, como os principais motivos da queda nas vendas.
"Nossa expectativa para dezembro era positiva porque, com o início da queda dos juros, acreditava-se que o consumidor estaria mais otimista, o que não aconteceu", disse. Desde abril, as vendas nos supermercados vêm caindo mês a mês, na comparação com igual período no ano anterior. Apenas em junho houve uma pequena retomada. Até no intervalo de uma semana que antecede o Natal, onde se concentra o consumo, o resultado ficou aquém da estimativa da Abras. O crescimento no período foi de 5%, metade do esperado.
Nem os importados, que tiveram um aumento de vendas em volume de 6% em dezembro em relação ao mesmo mês em 2004, ajudaram os números do varejo. "O dólar caiu 17,5% no mesmo período.O resultado foi que vendemos mais, porém com perda financeira", disse Oliveira.
Outra mudança observada foi o comportamento do consumidor frente aos produtos natalinos. "Ele procurou panetones, aves e bebidas de menor preço. Trocou o vinho europeu por exemplo, pelo chileno. Notamos uma migração dos produtos de primeira marca para outros mais em conta. Isto ocorreu com muita força em 2003 e voltou em 2005."
Para 2006, Oliveira prevê uma melhora nos níveis de inadimplência e um aumento de vendas de 2,5% a 3%. É o mesmo resultado obtido em 2004 , quando o setor recuperou as perdas de 2003. "Temos um ano eleitoral onde se espera um volume maior de dinheiro em circulação e os juros começaram a cair. É um cenário mais animador." Mas ele acha que faltam elementos para se falar em crescimento sustentado.