Vendas do comércio têm queda de 4,13% no País

Rio – Na contramão dos dados positivos de atividade econômica divulgados nas últimas semanas, o comércio varejista registrou queda de 4,13% nas vendas em fevereiro, ante janeiro, informou hoje (19) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O recuo, que interrompe uma trajetória de quatro resultados positivos, foi considerado como "pontual" pelo técnico Reinaldo Pereira, analista da pesquisa, mas preocupou o Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), que reúne as maiores redes de varejo do País. Na comparação com fevereiro do ano passado, houve crescimento de 5,35%.

Pereira avalia que o resultado negativo ante mês anterior "não significa uma tendência". Para ele, "janeiro é que foi um resultado atípico, muito forte. A queda de fevereiro é pontual, não houve uma reversão na tendência de crescimento nas vendas do comércio".

Em janeiro, as vendas do varejo cresceram 4,12% ante dezembro de 2005, resultado tão forte que provocou o "efeito base" estatístico no mês seguinte, levando ao desempenho negativo. O técnico do IBGE ressaltou que permanecem como influências positivas para o comércio nos próximos meses fatores como aumento da ocupação e da renda, ampla oferta de crédito e queda nas taxas de juros.

Concorda com ele o chefe do Departamento de Economia da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas. Para ele, a queda registrada em fevereiro é um "ponto fora da curva", a tendência para o setor é favorável e as vendas vão crescer ante mês anterior já a partir de março. Ele avalia que a inflação vai cair significativamente no segundo trimestre em relação aos resultados apresentados nos três primeiros meses deste ano e essa queda, em conjunto com a continuidade da disponibilidade do crédito e o aumento do salário mínimo, vai garantir um bom desempenho para o varejo.

A estimativa do economista é de que as vendas do comércio varejista cresçam entre 6% e 7% em 2006, puxadas pelos bens de consumo duráveis, aumento da renda, crédito e o próprio crescimento da atividade econômica. No primeiro bimestre, segundo o IBGE, o varejo acumula alta nas vendas de 5,96% e em 12 meses, de 5,08%.

Cautela

Ainda que também aposte em crescimento robusto nas vendas do comércio em 2006 (entre 5% e 6%), o diretor-executivo do IDV, Aprigio Rello, considerou a queda nas vendas em fevereiro "muito expressiva". Para ele, os dados mostram a necessidade de "cautela" para esperar o desempenho de março do varejo e saber qual é a tendência para o setor.

Rello acredita que o desempenho das vendas não foi melhor em fevereiro porque a queda na taxa básica de juros (Selic) ainda não chegou ao consumidor. "A Selic tem de repercutir para o crédito ao consumidor final e as instituições financeiras não estão repassando os juros", disse.

Segundo os dados do IBGE, todas as cinco atividades do varejo pesquisadas para as quais são divulgados os dados comparativos a mês anterior apresentaram queda nas vendas em fevereiro ante janeiro. O principal impacto negativo no resultado geral foi dado pelo grupo de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-2,44%), que tem o maior peso na pesquisa.

Pereira disse que o resultado para esse segmento sofreu efeito da forte base de comparação do mês anterior, já que em janeiro as vendas desse grupo apresentaram forte crescimento (6 06%) ante mês anterior.

O mesmo segmento, paradoxalmente, apresentou crescimento de 7,27% na comparação com fevereiro do ano passado e representou o principal impacto de alta para as vendas do comércio (5,35%) em fevereiro ante igual mês de 2005.

Pereira disse que esse segmento tem sido beneficiado pelo aumento da renda e da ocupação e, ainda, pela ampliação do crédito aos clientes. Sem a volatilidade inerente aos dados ante mês anterior, as vendas de alimentos se beneficiaram desses fatores na variação ante igual mês do ano passado.

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