As vendas do comércio varejista mantiveram a trajetória de crescimento em agosto, com aumento de 7,53% ante igual mês do ano anterior, a nona expansão consecutiva do setor. Apesar do resultado positivo, que garantiu um crescimento acumulado de 9,45% nos oito primeiros meses do ano, o ritmo de recuperação do varejo começa a perder intensidade por causa da restrição de capacidade de endividamento das famílias. Pela primeira vez desde março, a expansão das vendas foi inferior a dois dígitos.

O técnico da Coordenação de Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Nilo Lopes, disse que a perda de velocidade do crescimento das vendas – que havia sido de 12,04% em julho, ante igual mês do ano passado – foi “surpreendente”. Ele disse que já esperava a desaceleração, mas não avaliava que o aumento despencaria do nível de julho para o resultado de agosto.

Para Lopes, a perda de ritmo ocorreu porque “o crescimento atual é muito concentrado em crédito”. Ele disse que não é possível afirmar ainda se essa desaceleração é uma tendência, mas explicou que o fenômeno pode ser atribuído a dois fatores: menor interferência da baixa base de comparação do ano passado, quando os resultados foram muito negativos até julho, e “falta de consistência” no processo de recuperação das vendas.

“O recomendável, para um crescimento mais consistente, é que o aumento esteja centrado no crédito e na renda. Quando ele ocorre mais em cima do fator crédito, o ritmo acaba diminuindo pela restrição da capacidade de endividamento das famílias”, disse. Lopes acrescentou que, “quando não há uma recuperação do emprego e da renda de forma mais consistente, não é possível manter taxas elevadas no varejo por muito tempo”. Para ele, ainda é preciso esperar pelo menos a divulgação dos dados do comércio de setembro para checar qual a tendência do setor. “Podemos descartar resultados negativos nas vendas até o final do ano, mas a dúvida é qual será o ritmo dessa desaceleração do crescimento, que já era esperada”, afirmou.

A pesquisa de comércio do IBGE não divulga dados comparativos a mês anterior. Mas o chefe do Departamento de Economia da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, fez as contas e concluiu que houve uma queda de 2,6% nas vendas em agosto ante julho, na série com ajuste sazonais, ou seja, eliminando as características próprias do período, nesse caso o Dia dos Pais. “O ciclo do crédito está se esgotando e a renda não está aumentando o suficiente para continuar alavancando o comércio”, disse. Para a CNC, a tendência é de que as vendas do varejo desacelerem gradualmente, até fechar o ano com aumento de 7% na comparação com 2003. Esse resultado, para Thadeu de Freitas, será “muito bom”, já que vai representar uma reversão completa em relação a 2003, quando o comércio fechou o ano com queda de 3,6%.

Em agosto, o aumento das vendas do setor foi puxado pelo segmento de móveis e eletrodomésticos, com crescimento de 29,5% ante igual mês de 2003. Apesar da forte expansão, o setor apresentou desaceleração em relação aos resultados anteriores, já que vinha apresentando aumentos acima de 30% desde março (em julho havia sido de 32,23%).

Lopes destacou que as taxas desse segmento continuam muito elevadas, mas a desaceleração no ritmo de crescimento pode ser atribuída ao limite de capacidade de endividamento das famílias, já que é o crédito que vem puxando as vendas desses produtos. Além disso, ele avalia que é possível que os consumidores “estejam ganhando fôlego” para as compras de final de ano.

Outro segmento de bens duráveis, o grupo de veículos, motos, partes e peças, também vinculado ao crédito, acelerou o aumento nas vendas, com crescimento de 32,2% em agosto, sobre igual mês do ano passado, ante um aumento de 22,09% registrado em julho. Lopes acredita que o aumento das compras de veículos com motor bicombustível estaria aquecendo o setor.
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