O empresário Luiz Antônio Vedoin, que confessou ter montado o esquema de pagamento de propinas a parlamentares, afirmou nesta terça-feira (12) ao Conselho de Ética do Senado que pode ter pago mais de R$ 70 mil para o genro da senadora Serys Slessarenko (PT-MT), Paulo Roberto Ribeiro, em troca de uma emenda da parlamentar no valor de R$ 700 mil. Vedoin reconhecia até agora o pagamento de R$ 35 mil em dinheiro vivo, em setembro de 2003. Vedoin, o cunhado, Ivo Marcelo Spínola de Rosa, e Paulo Roberto foram submetidos a uma acareação no Conselho de Ética.

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O empresário disse que pode "não estar lembrando" do segundo pagamento, feito em cheque. Negou, porém, que o valor do cheque fosse R$ 37,2 mil "e uns quebrados", como disse Paulo Roberto. O genro da senadora reconhece apenas o recebimento do cheque, mas diz que foi pela venda de produtos hospitalares, como camas, macas e suportes para soro, para a Planam, empresa da família Vedoin. Paulo Roberto não apresentou, porém, nenhum recibo ou testemunha da venda do material hospitalar, feito pela empresa São Benedito Comércio, Serviço e Representação.

"Eu não fazia pagamento de quebrados. Se aparecer o cheque de R$ 37,2 mil e uns quebrados significa que eu estaria mentindo aqui. Nunca entreguei cheques com centavos, porque não era pagamento de assuntos comerciais. Ou foi R$ 37 mil, ou R$ 37,5 mil ou R$ 38 mil", disse Vedoin. "Se existe cheque, é fruto de pagamento de comissão. Não houve transação comercial", insistiu o empresário. E reiterou: "A gente entrou num acordo para colocar uma emenda e ele disse que seria paga despesa de campanha da senadora. Eu não estive com a senadora em nenhum momento.

Paulo Roberto negou: "Não houve essa conversa." O genro da senadora disse que buscou "um cheque da transação comercial na sede da Planam" e insistiu que jamais pediu a Serys a apresentação de qualquer emenda.

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Para o relator do processo de Serys, senador Paulo Octavio (PFL-DF), há muitas contradições nas versões. Ele ressaltou que o ponto comum foi a garantia tanto de Vedoin quanto de Paulo Roberto de que Serys não participou de qualquer negociação e nunca teve contato com a Planam. "As versões são de uma fragilidade total. Um diz que vendeu sem nota fiscal e sem testemunhas. E o outro sustenta um acerto incerto com um adiantamento, sem a certeza de que as emendas seriam liberadas", disse Paulo Octavio.

Vedoin diz que a emenda de Serys, para venda de uma ambulância fabricada pela Planam, só foi liberada em 2004, mas que fez o pagamento "antecipado" em setembro de 2003. "Corri o risco", afirmou.

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O cheque, segundo Paulo Roberto, foi entregue por Ivo Spínola. O cunhado de Luiz Antônio Vedoin negou ter feito qualquer pagamento ao genro da senadora. Reconheceu, porém, que entregava cheques a Planam, como empréstimos, e que não sabia se eram repassados para terceiros.

Paulo Roberto e Vedoin também discordam radicalmente sobre as circunstâncias em que se conheceram. O genro da senadora diz que foi no colégio Portal, em Cuiabá, onde estudariam os filhos de ambos, em agosto de 2003. Vedoin levou um atestado da escola de que seu filho Lucas estudou no Portal apenas em 2004. O empresário insiste que conheceu Paulo Roberto na sede da Planam, apresentado por outro empresário, Sérgio Lacerda.

Paulo Roberto acusou Darci Vedoin, pai de Luiz Antônio, de ter feito ameaças por suspeitar que a Planam seria prejudicada em uma licitação, em dezembro de 2004. Luiz Antônio confirmou a suspeita, mas negou a ameaça. "Alguém está mentindo e só as quebras de sigilo bancário e telefônico vão mostrar quem diz a verdade", disse o relator do processo.