O Vaticano condenou nesta quarta-feira (14), por considerá-los "errôneos ou perigosos", trabalhos de um dos maiores expoentes da Teologia da Libertação, o reverendo espanhol Jon Sobrino, mas não adotou medida disciplinar imediata contra ele. Foi a primeira vez que o Vaticano tomou medida do tipo sob o papado de Bento XVI, que como cardeal Joseph Ratzinger liderou a repressão do Vaticano a teólogos considerados se perigosamente da doutrina da Igreja – como o brasileiro Leonardo Boff.

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O Vaticano começou a analisar o caso contra o reverendo jesuíta Sobrino em 2004 e considerou o procedimento "urgente" devido à ampla difusão de seus escritos na América Latina. O julgamento pela Congregação para a Doutrina da Fé, antiga Inquisição, "lida especificamente com os trabalhos, não com a pessoa", ressalvou o porta-voz do Vaticano Federico Lombardi. Segundo ele, "é dever da congregação explicar o que foi encontrado errado em seus escritos, e assim alertar os fiéis". "Outras sanções, como se a pessoa poderá ensinar ou não, são questões em aberto a serem tratadas pelas autoridades competentes", acrescentou.

A declaração do Vaticano, chamada Notificação, serve efetivamente como uma advertência ao fiel católico que pode vir a ler o trabalho de Sobrino, apesar de não proibi-lo. Ela foi assinada pelo cardeal americano William Levada, chefe da congregação, e teve aprovação do papa.

Resposta

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Um porta-voz na sede dos jesuítas em Roma disse que Sabrino não planeja fazer comentários públicos sobre a decisão do Vaticano. O Vaticano, sob João Paulo II e Bento XVI, tem condenado a Teologia da Libertação, citando sua base marxista na análise da sociedade – particularmente a idéia da luta de classes na promoção da justiça social, política e econômica para os pobres.

Sobrino tem vivido em El Salvador por décadas e era próximo do arcebispo salvadorenho Oscar Arnulfo Romero, um constante crítico de abusos dos direitos humanos em seu país assassinado pela direita salvadorenha enquanto celebrava a eucaristia em 1980. Segundo o porta-voz Lombardi, também um jesuíta, seis dos padres seguidores de Sobrino foram assassinados devido a seu "comprometimento social com o povo salvadorenho".

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O Vaticano destacou dois trabalhos teológicos de Sobrino: "Jesus o libertador – A história de Jesus de Nazaré " e "A Fé em Jesus Cristo (Ensaio a partir das vítimas)". Os trabalhos, julgou, "contêm proposições que são ou errôneas ou perigosas e podem causar danos aos fiéis". Apesar de expressar apoio a seu trabalho pelos "pobres e oprimidos", o Vaticano acusou Sobrino não afirmar abertamente a consciência divina do Jesus histórico. Lombardi afirmou que várias posições de Sobrino colocam em dúvida "pontos muito básicos da fé perene da Igreja".