A Varig viveu ontem um dos dias mais dramáticos de sua história, com o cancelamento de 118 vôos – mais da metade das 208 operações diárias da companhia. O cancelamento dos vôos foi conseqüência de decisões judiciais nos Estados Unidos, que determinaram o arresto de 22 aeronaves pertencentes a três empresas de leasing: ILFC, Boeing e GATX. Como a Varig tem outras 16 aeronaves paradas para manutenção, restam 23 em operação. Há um ano, eram cerca de 70.
Diante da frota reduzida, a Varig enviou ontem à noite ao governo um novo plano de malha que prevê a paralisação de 70% dos vôos ao exterior nas próximas 72 horas. Todos os vôos aos EUA serão interrompidos. Restarão apenas os vôos a Frankfurt, Madri e Londres
No entanto, até mesmo esse plano de frota está ameaçado. Na audiência de hoje em Nova York, a expectativa é de que pelo menos outras duas empresas de leasing solicitem o arresto de aeronaves por falta de pagamento dos aluguéis correntes. São elas a Nissho Iwai, que conta com duas aeronaves Boeing 767, e a Central Air, que tem cinco MD-11 arrendados à Varig. "Se a Varig perder mais esses aviões, a operação internacional acaba", afirma o consultor de aviação Paulo Bittencourt Sampaio
Com o agravamento da crise, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) solicitou a autorização do juiz Luiz Roberto Ayoub, responsável pelo caso Varig, para elaborar um plano emergencial para atender os passageiros. O plano já vinha sendo elaborado, mas a Anac não podia tratar dele publicamente pois a Varig ainda estava tentando se recuperar. "Precisamos fazer um plano de emergência para atender os usuários e minimizar os problemas dessas pessoas que precisam se deslocar", afirmou o presidente da Anac, Milton Zuanazzi. Ele não soube precisar quantos passageiros teriam que ser deslocados nos próximos três dias e nem exatamente onde eles estão. "Nossas equipes técnicas já estão na sede da Varig no Rio para fazer esse levantamento, ainda nesta madrugada poderemos ter a certeza", afirmou
A falta de esperança em relação a proposta do TGV (Trabalhadores do Grupo Varig) levou até mesmo a direção da Varig a redigir um comunicado para os funcionários informando sobre a paralisação das operações a partir da zero hora de ontem. No entanto, o comunicado foi suspenso diante da decisão do juiz Ayoub de homologar a proposta do TGV
Uma fonte ligada a empresas de leasing afirma que o sentimento geral é de que o depósito de US$ 75 milhões prometido pela associação de trabalhadores TGV, que comprou a Varig Operacional no leilão judicial no dia 8, não irá aparecer. "Ninguém acredita que o TGV irá apresentar esse dinheiro na sexta-feira", afirmou a fonte
Das 22 aeronaves que a Varig retirou de operações ontem, sete são Boeings 737 (modelos 300, 700 e 800), que já estão reservadas para a Gol. Segundo analistas do setor, esses aviões têm capacidade de entrar em operação com as cores da Gol em poucos dias, o que ajudaria a minimizar os impactos de uma paralisação da Varig
Segundo o principal executivo de uma empresa aérea, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) já começou a discutir com as empresas o plano de distribuição das linhas domésticas da Varig no caso de paralisação. Pelo plano, os direitos de vôo (slots) seriam distribuídos entre as empresas de forma proporcional à participação de mercado que cada uma tinha em maio. Essa distribuição enfrenta resistência das pequenas empresas, que ameaçam ir ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade)