Varig negocia “moratória” de 90 dias com credores

A Varig negocia com credores e fornecedores a suspensão por 90 dias do pagamento de gastos correntes, principalmente de combustível e aluguel de aviões. O alívio mensal poderia chegar a US$ 100 milhões, recurso que a empresa pensa em destinar à recuperação de jatos parados e outras prioridades. Com o caixa apertado, a empresa enfrenta uma "administração de guerra" diária na escolha do que pode ser pago e o que deve ser postergado.

As informações são de uma fonte que acompanha a rotina da empresa. A Varig tem 71 aeronaves, mas só 54 em operação. Além de não produzirem receita, os aviões parados representam custos. A companhia vem sendo forçada a quitar antecipadamente custos operacionais como o do querosene de aviação, fornecido pela BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras. A cada sexta-feira, ela paga pelo combustível que usará sábado, domingo e parte da segunda-feira. O perdão temporário nas dívidas com a estatal é um dos principais pontos do pleito da empresa ao governo.

Hoje pela manhã, o presidente da empresa, Marcelo Bottini, confirmou que o caixa da Varig é "bastante limitado", mas sustentou que isso está sendo controlado e descartou o risco de paralisação da companhia "nas próximas horas", como havia descrito em e-mail enviado ao Planalto – segundo revelaram fontes ligadas à Presidência da República. "Não haverá paralisação, de maneira alguma", disse, negando que tenha enviado a mensagem ao governo. Mas, confirmou as tentativas de obter "carência do não pagamento para alguns credores", sem entrar em detalhes.

Segundo ele, a idéia geral é que credores estatais, como BR Distribuidora (combustível) e Infraero (infra-estrutura dos aeroportos), e outros fornecedores possam "viabilizar uma linha de crédito ou uma facilitação por alguns meses, com o pagamento dessa linha no segundo semestre". Hoje à tarde, executivos da Varig reuniram-se na sede da BR. A Varig compra o equivalente a R$ 75 milhões ao mês da distribuidora, mas há meses não tem mais crédito. Além disso, comenta a mesma fonte, a antecipação de pagamento pelo combustível estrangula o caixa da empresa.

Procurada, a BR informou que a eventual aprovação da proposta depende do conselho de administração da estatal. Fonte ligada à BR disse, porém, que a proposta de alongamento apresentada pela Varig não é exeqüível. A Varig informou à estatal sobre o plano de recuperação e a proposta recebida da Varig Log, para a venda da companhia.

A ex-subsidiária ofereceu US$ 350 milhões pela Varig. O executivo da Volo Brasil (controladora da Varig Log), Marco Antonio Audi, disse hoje que a proposta é "simples e honesta" e que a empresa está disposta a "alguma negociação". De forma geral, credores não gostaram da proposta, principalmente os trabalhadores. O Aerus se opôs desde terça-feira. Audi acrescentou que admite quitar dívidas relativas a aviões que permaneçam operando na Varig – caso a proposta seja aceita, a Varig Log planeja manter apenas 48 jatos voando.

Bottini participou pela manhã de assembléia de credores. Antes da reunião, reconheceu que "é extremamente necessário que haja um investimento e isso tem de ocorrer o mais rapidamente possível". Ele acredita que a Varig poderá atrair uma capitalização, mas reconheceu que "se o investidor não vier, a Varig precisa da ajuda do governo". Ele não comentou a proposta da Varig Log, explicando que cabe aos credores a análise.

A juíza da 8ª Vara Federal, Márcia Cunha, que cuida do processo de recuperação, considera grave a situação. "Há risco de a empresa parar de voar. Mas isso não é uma certeza, é um risco. Há também a possibilidade de se recuperar". Ela se encontrará com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para verificar se há possibilidade de empréstimo à Varig. "A Justiça pode fazer muito pouco. A Varig precisa é de dinheiro."

O presidente da Varig disse que há cinco dias enviou e-mail ao gabinete do Presidente Lula, solicitando audiência.

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