Varig começa a demitir e negociar com credores

A Varig inicia amanhã (3) o seu plano mais ousado de reestruturação visando cortar custos de US$ 50 milhões mensais ou um terço do que gasta hoje: inicia rodadas de negociações com credores como a BR Distribuidora e a Infraero, e as demissões de dois mil funcionários. É com essas duas ações que o presidente da companhia aérea, Marcelo Bottini, espera dar mais leveza para que a empresa consiga retomar seu fôlego.

Os sinais de esgotamento são visíveis. Em janeiro e fevereiro, a Varig deixou de realizar um de cada dez vôos internacionais programados. Mais do que uma conseqüência de sua situação financeira, o desempenho da companhia no exterior evidencia um fenômeno crescente: a hegemonia das companhias aéreas estrangeiras no transporte internacional de passageiros. Esse movimento deve se intensificar com a estratégia da recém criada Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) de ampliar o número de vôos internacionais.

Em 1990, a Varig tinha 50% da demanda entre o Brasil e os EUA, concorrendo com sete empresas. Em 2004, sua participação despencou para 17%, com apenas quatro concorrentes. A diferença de desempenho fica mais evidente com a análise do acordo bilateral celebrado entre os dois países, que estabelece limite semanal de 105 vôos para cada lado. As empresas americanas já cumprem sua cota, enquanto as brasileiras não utilizam nem a metade.

"A Varig tem de se adaptar à nova realidade, mas isso não está acontecendo. Ela ficou reclamando do excesso de empresas e durante 15 anos não se adaptou", diz o especialista em aviação Paulo Sampaio. Enquanto isso, estrangeiras como British Airways, Air France e Lufthansa conquistam cada vez mais passageiros ao usar aviões novos e equipados com modernos sistemas de entretenimento e conforto, usando o maior avião do mundo em operação, o Boeing 747, com capacidade para até 580 passageiros.

Levantamento feito por Sampaio, com dados do Departamento de Aviação Civil (DAC), mostra que a segunda maior companhia nacional que atua no exterior, a TAM, não consegue ocupar o espaço aberto pela Varig. Pela análise do consultor, a TAM transportou 147 mil pessoas entre o Brasil e a Europa em 2004. Em 1998, Vasp e Transbrasil, que hoje estão no chão, transportaram 332 mil pessoas entre os continentes. "A TAM está fazendo um bom serviço no mercado doméstico, mas está cautelosa na sua expansão internacional", avalia.

O desempenho da Varig no mercado europeu também recuou, apesar de hoje ela ter menos concorrência do que há 13 anos. Em 1991, a empresa transportou 1,157 milhão de pessoas entre o Brasil e a Europa, respondendo por 45% da demanda. Em 2004, a Varig transportou 3,402 milhões de passageiros, o que correspondeu a 35% do fluxo nesse mercado.

Há pelo menos dois anos as autoridades reguladoras da aviação brasileira iniciaram uma estratégia para aumentar a competitividade no mercado internacional e, conseqüentemente, trazer mais turistas e divisas ao País.

O presidente da Anac, Milton Zuanazzi, intensifica a negociação de acordos para aumentar os vôos internacionais, lembrando que a medida faz parte do objetivo do governo de trazer 7 milhões de turistas ao País. Só na semana passada, foram autorizadas 59 novas freqüências internacionais.

"O ideal é que os turistas venham para cá com uma empresa de bandeira brasileira. Muitas vezes, no entanto, isso não é possível porque não há viabilidade econômica", diz. No último dia 23, a Anac ampliou o número de vôos entre o Brasil e a Inglaterra, abrindo espaço para a britânica Virgin Atlantic Airways fazer sua estréia no País até o fim deste ano.

A Varig já opera sete freqüências entre o Brasil e Londres e a British Airways faz o mesmo número de vôos nessa rota. A cota é estabelecida por meio de um acordo bilateral, com companhias de cada país recebendo o mesmo número de vôos.

A Anac dobrou o tamanho dessa rota, abrindo espaço para mais sete vôos que serão feitos pela TAM e outras sete para a Virgin. A TAP, com forte atuação entre o Nordeste e Portugal, também pleiteia o aumento de freqüências para o País.

A estratégia da Anac é ampliar a operação de empresas estrangeiras no transporte internacional apenas se não houver o interesse de companhias brasileiras por determinada rota.

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