Num duro discurso de 50 minutos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, há pouco, que ninguém no País tem mais autoridade moral e ética do que ele para fazer mudanças. "Ninguém, neste País, mais do que eu, tem autoridade moral e ética para fazer as mudanças nas instituições e no comportamento social", afirmou Lula, na solenidade de abertura do I Congresso da União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária, no município goiano de Luziânia (cerca de 60 Km do Plano Piloto de Brasília).
Ao comentar as denúncias de corrupção contra o governo, Lula disse que muitos já estão com medo da sua reeleição e que o Congresso pode abrir quantas CPIs quiser para investigar, assegurando que os culpados terão que pagar pelos seus erros e que o governo não deixa de investigar denúncias contra funcionários seus.
Nesse sentido, ele lembrou que, no seu governo, a Polícia Federal já prendeu 1.200 pessoas por corrupção, das quais 129 eram policiais. Lamentou, no entanto, que a Justiça tenha soltado boa parte delas depois. E citou o caso da chacina de quatro fiscais do Trabalho em Unaí (MG), cujos supostos assassinos estão em liberdade.
"Todas as grandes operações – Vampiro, Anaconda, Curupira – foram feitas por nós", afirmou. "E vamos investigar o que aparecer". O presidente ressaltou, porém, que o que não pode é o governo ficar atrás de denúncias vazias. Quanto às denúncias sobre a existência de um esquema de pagamento de "mensalão", em que o PT teria pago parlamentares do PP e do PL em troca de apoio ao governo, Lula disse que cabe ao Congresso fazer as investigações. "Eles que criem mecanismos de autocontrole e de investigação", afirmou.
O presidente fez, no entanto, um apelo aos parlamentares para que definam um horário para os trabalhos da CPI, a fim de que possam também votar matérias de interesse do Brasil. "Não tenho lá projetos pedindo aumento para presidente ou a trieleição. Os projetos são de interesse deste País, e não do presidente", acrescentou. "Não podemos permitir que, por conta da CPI, o Congresso não funcione".
No pronunciamento, Lula admitiu que, no tempo em que estava na oposição, já vez "muitas bravatas", mas disse que, agora, como presidente, cumpre o que diz. "Vergonha na cara, a gente aprende dentro de casa", afirmou. "Eu já fiz muita (bravata). Agora, sou presidente da República. Eu já vi gente ser eleita como se fosse caçador de marajá", acrescentou, referindo-se ao ex-presidente Fernando Collor.
Lula assegurou que todas as denúncias envolvendo pessoas do governo federal serão investigadas contra quem quer que seja, mas sem bravatas. Sob constantes aplausos de uma platéia de quase 900 pessoas, Lula não deixou de lado a ironia e citações sobre sua origem. Lembrando do pai e da mãe humildes e analfabetos, o presidente disse que é sempre muito difícil quebrar rituais como, por exemplo, o de não vestir gravata (na solenidade, ele estava de roupa esporte). "Eu sou a negação do ritual histórico. Não pela minha roupa, pois me visto melhor que muita gente, mas pela minha origem", afirmou, destacando que as ações do governo na área da transferência de renda "estão incomodando muita gente".
Ele destacou que o governo dá bolsa-família a 7 milhões de famílias e já promoveu transferência de renda no valor de R$ 17 bilhões. "Tem gente que trata isso como gasto", observou. "Para mim, isso é investimento que salva vidas".