O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, dono das agências de publicidade SMPB e DNA, mantém com o PT relações financeiras bem mais estreitas do que se pensava. Valério foi avalista de um empréstimo de R$ 2,4 milhões tomado pelo partido no banco BMG de Belo Horizonte, informa a edição da revista ‘Veja’ que começou a circular neste sábado. Além disso, como o PT não honrou uma das prestações do financiamento, no valor exato de R$ 349.927,53, coube ao empresário quitá-la.
O empréstimo foi contraído pela legenda em 17 de fevereiro de 2003, um mês e meio depois da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além de Valério, a operação teve outros dois avalistas formais: o próprio presidente do PT, José Genoino, e o tesoureiro do partido, Delúbio Soares.
De acordo com a reportagem, Delúbio foi justamente o primeiro a procurar o banco, mas não conseguiu a liberação do financiamento. Por isso, Valério – que vive em Belo Horizonte – entrou em ação, passando a ter conversas com diretores do BMG. O empresário chegou a envolver o Planalto no caso, ao levar dirigentes do banco para visitar, em Brasília, o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Só depois o empréstimo foi autorizado.
Em depoimento prestado à Polícia Federal, Valério disse nunca ter agendado nenhum encontro com Dirceu. Afirmou ainda que só esteve com ex-ministro em reuniões de caráter social, como um churrasco em que se comemorou o aniversário de um deputado. Antes de prestar depoimento à PF, porém, Valério contara em entrevista à ‘Veja’ que estivera apenas três ou quatro vezes com Dirceu – além de ter ido quatro ou cinco vezes à sua ante-sala no Palácio do Planalto para conversar com a assessora-chefe da Casa Civil, Sandra Cabral, uma velha amiga de Delúbio.
Contratos
Valério é apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como operador do "mensalão", a mesada de pelo menos R$ 30 mil que parlamentares de partidos como PP e PL receberiam para votar de acordo com os interesses do governo. As agências SMPB e DNA têm contratos no valor total de R$ 144,4 milhões com o governo e empresas estatais. O maior deles é com o Banco do Brasil, no montante de R$ 105 milhões. As empresas de Valério trabalham também para os Correios, a Eletrobrás e os Ministérios dos Esportes e do Trabalho. Durante o período em que o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) ocupou a presidência da Câmara, a SMPB foi contratada por R$ 10,7 milhões.
Segundo a revista, a Graffiti – empresa de Valério que controla a DNA – contraiu no início do ano passado um empréstimo de R$ 15 milhões. Deu, como garantia, a receita de um contrato publicitário que, pouco antes, fora firmado entre a SMPB e os Correios.