O presidente Lula foi ao Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, e no debate sobre exclusão social e fome recebeu vaias de exígua fração das dez mil pessoas que lotavam o Gigantinho. Ato contínuo, foi saudado pelo aplauso entusiástico da massa, ao referir-se aos descontentes como filhos rebeldes do PT, cujo retorno dar-se-á quando tiverem amadurecido um pouco mais.
Para um político forjado na luta sindical, nos comícios à porta das fábricas do ABC e nas negociações com o patronato, a vaia não chega a constituir desconforto maior, até porque não há como sufocar o pensamento divergente. O próprio Lula deve ter usado vezes incontáveis, junto aos companheiros, o extremo recurso do apupo aos adversários.
O aspecto lamentável foi a falta de respeito para com o presidente da República, afinal, a mais alta autoridade da federação brasileira, ali representando a condição jurídico-constitucional de chefe de Estado, a ele atribuída pela vontade da maioria. A vaia daquele punhado de irreverentes sugere a probabilidade não afastada de escassa compreensão dos rituais políticos, daí a tentativa frustrada de hostilizar o presidente. Confessando ter os ouvidos calejados, em tom amigável Lula lembrou que vaiar é coisa própria da juventude.
Não perca, porém, o presidente, a oportunidade para uma reflexão mais profunda sobre o atual momento vivido pelo País. Talvez ele tenha feito isso, pela enésima vez, durante a viagem a Davos. A dificuldade enfrentada por milhões de brasileiros é assunto de alta complexidade e o governo somente obterá a legítima unção popular quando ostentar um superávit de realizações sociais, ao invés de amontoar recursos para o pagamento de juros.
Lula é bom de palanque, mas deve saber também que discurso – por melhor que seja -, não resolve problemas…