Vacinas eficientes contra o câncer de útero, a verminose, a meningite meningocócica, doenças respiratórias e a malária estão em processo adiantado de desenvolvimento e devem estar à disposição da humanidade até o final da próxima década. A avaliação é dos cientistas que participam em Salvador do 6º Fórum Mundial de Pesquisas de Vacinas, que reúne 200 dos maiores pesquisadores do setor no mundo.
Há algumas vacinas em estágios mais adiantados, como a tetravalente contra a meningite meningocócica autorizada nos Estados Unidos e a bivalente contra o papilomavírus humano causador do câncer de útero, que deve estar disponível entre o final de 2006 e início de 2007.
A Fundação Osvaldo Cruz do Ministério da Saúde, em parceria com o Instituto Butantã e o Instituto Albert Sabin de Washington, pesquisa uma vacina contra os ancilóstomos que provocam a conhecida verminose, doença que o escritor Monteiro Lobato eternizou com o mal do Jeca Tatu, símbolo da letargia do caboclo interiorano do início do século 20. Por andar sempre descalço, Jeca era infectado pelos vermes pelos pés.
A vacina, que tem entre seus pesquisadores Peter Hotez, da Universidade de Washington, vai agir inibindo a instalação do verme no intestino da pessoa. Contudo, o brasileiro Ciro de Quadros, diretor do Instituto Albert Sabin, disse que ainda é muito cedo para determinar uma data para o lançamento da "vacina do Jeca Tatu".
"São necessários de 12 a 15 anos para desenvolver uma vacina e as pesquisas podem custar entre US$ 200 milhões e US$ 500 milhões", comentou, explicando que a indústria farmacêutica mundial não tem muito interesse em financiar essas pesquisas, pois vacina não dá lucro. "Num universo de US$ 100 bilhões anuais que a industria farmacêutica fatura, a fatia relativa às vacinas é de cerca de US$ 5 milhões ou seja 5%."
Parceria
Por isso a Organização Mundial da Saúde e governos de diversos países do mundo, entre os quais o Brasil, criaram uma rede global de pesquisa de vacina. "Essas parcerias são fundamentais para o desenvolvimento das pesquisas", observou Marie-Paule Kieny, diretora da Iniciativa para a Pesquisa de Novas Vacinas da OMS. Ela lembrou que o avanço da biotecnologia provocou uma revolução na área da vacina tornando possível que o número de vacinas existentes no mundo – 20 atualmente – dobre na próxima década.
Ciro de Quadros lembrou também que há 25 anos a população mundial tinha uma cobertura vacinal de apenas 5% e atualmente chega a 80%. Os maiores desafios enfrentados pelos cientistas da área são vacinas contra doenças infecciosas que matam dez milhões de crianças por ano no mundo e a sonhada proteção preventiva à aids. "Os governos precisam entender que a prevenção de doenças com as vacinas é o melhor custo-benefício que existe na saúde", disse.